Cabul não acabou. Está no mesmo lugar com suas mulheres misteriosas

Houve tempo, depois dos atentados às Torres Gêmeas em Nova York até 2005, que Cabul saiu do anonimato no Rio Cabul e emergiu com fúria no noticiário internacional. De hora para outra, todo mundo estava bamba em tadjiques, hazaras e pachtuns. A capital afegã desde 1776, a 1750 metros acima do nível do mar, passou a receber atenção do planeta.

Todo mundo sabia que os soviéticos estiveram lá e foram escorraçados, que os talibãs mandavam na área e que aqueles homens barbudos e envoltos em vestes pesadas que protegiam metralhadoras, adagas e punhais, eram os novos inimigos número 1 dos Estados Unidos, porque seguiam orientação de Osama Bin Laden, que morava bem ao lado de Cabul.

Qualquer um sabia que as mulheres andavam com burcas, veste obrigatória por lei que em alguns casos cobre o corpo inteiro deixando os olhos à vista e em outros cobre até os olhos. Assim, no Afeganistão, a parte mais sensual da mulher são os olhos, porque são os únicos vistos. Os caras comentam: “Você viu só os olhos daquela mulher?”. Outro responde: “E as sobrancelhas então?”. E isto é conversa de afegão sacana porque o bom afegão abaixa os olhos ou faz cara feia.

Como o Afeganistão estava na moda, o serviço da France Presse inundava a redação com fotos do cotidiano do país, de suas cidades e de seu povo. Não sei como fizeram as fotos sem burca. Mas percebi algo extraordinário. Que as afegãs eram lindas. Tinha afegã de tudo que era tipo, loiras, morenas, baixinhas, gordinhas, com cara de chinesa, com cara de alemã, com cara de italiana. Um festival de beleza, embora os dentes da maioria fossem estragados. Fui pesquisar a origem da diversidade feminina afegã.

Descobri que os afegãos há séculos se especializaram em atacar caravanas que passavam por seu território indo para o Ocidente ou Oriente. Eles pegavam as cargas, matavam os homens e ficavam com as mulheres, as bonitas porque as feias também passavam na faca. As bonitas eram incorporadas como esposas, se quisessem continuar vivas. E assim fizeram involuntariamente um aprimoramento no plantel feminino do país.  Todos os dias eu descobria algo fascinante sobre o Afeganistão e Cabul.

Sabia que um dos esportes preferidos do afegão era a briga de cachorros. Um belo dia acabou. Mas Cabul não acabou. Acabou o interesse americano, acabaram as informações abundantes de Cabul no noticiário. A coisa por lá continua como sempre foi. Eu disse para o Miguel: “Caramba, cara! Cabul não acabou!”. E ele respondeu: “Cabou não!”.

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