Brigitte Montfort, quem diria, foi parar num bordel!

Musa da adolescência e que me arrastou para a leitura dos livros de bolso, Brigitte Montfort era jornalista, trabalhava no Morning News, de Nova York e morava numa cobertura na Quinta Avenida, de frente para o Central Park. Mal começou na profissão e faturou o Pulitzer. Brigitte era filha do guerrilheiro francês Paul Zingg com a espiã francesa Giselle Montfort, a espiã nua que abalou Paris e foi descoberta e fuzilada pelos nazistas. Brigitte povoou a imaginação de muitos marmanjos hoje com mais de 60 anos. Tanto ela quanto a mãe são personagens de livros de bolso. A primeira criada em 1948 por David Nasser. A história de Giselle foi publicada em capítulos no Diário da Noite. Foi um sucesso sem igual.

Ainda que soubessem depois que não se tratava de caso real, como o jornal insinuava, os leitores se apegaram à história de Giselle, reeditada em livros de bolso. Foi, talvez, o nascimento do formato no Brasil. Como Giselle foi fuzilada e não podia ser ressuscitada, a Editora Monterrey, para aproveitar o sucesso, encomendou uma sequência ao escritor espanhol Antônio Vera Ramirez, que assinava seus livros com o pseudônimo Lou Carrigan. Foi assim que nasceu Brigitte Montfort, dublê de jornalista e espiã. O que atraia nos livros de bolso de Brigitte Montfort não era tanto as histórias, cujos enredos eram esquemáticos e repetitivos, com uma ou duas cenas de sedução atraentes para a época e que hoje não despertariam interesse. A sacada eram as capas feitas por Benício da Fonseca. Depois de olhar a capa, o sujeito via sensualidade até em receita de bolo.

Benício usou de modelo a socialite carioca Maria de Fátima Priolli. Era uma mulher de grande beleza. As magníficas ilustrações mostravam a espiã sedutora, seminua e com arma na mão. Em quase três décadas foram publicadas 500 histórias originais entre 1965 e 1992. Eu conto isto porque ontem por volta das 14h30 passava diante das Casas Pernambucanas da Praça Tiradentes e um rapaz me entregou um panfleto divulgando endereço e telefones de garotas de programa de bordéis baratos do centro da cidade. Eu já pegara dezenas de outros, porque os caras e algumas mulheres estão sempre por ali entregando. Normalmente pego, ando um pouco e jogo no lixo metros adiante.

Faço isto por dois motivos: pego para não desmerecer o trabalho de quem me entregou e jogo mais adiante para não jogar no chão e sujar a cidade. Antes de jogar, dou uma olhada. Sempre tem algo engraçado, caso contrário ninguém lê. Desta vez levei um susto porque a mulher do panfleto era a cara de Brigitte Montfort. Eu voltei e perguntei ao rapaz que entregou: “Você tem certeza de que esta dona está no bordel?”. Ele riu meio sem graça, como dissesse que colocar mulher feia numa propaganda não atraia ninguém: “É ela mesma. Está um pouco malhada, cansada e velha. Mas é ela”. Ele estava brincando. E por isso eu disse: “Coisa de primeira!”.

Eu fui embora. Não era certamente o tipo de garota que alguém encontraria por lá. Muito menos Brigitte Montfort, porque se trata de uma personagem, como a Mulher Maravilha. Caso fosse real e caísse num bordel barato de Curitiba, ainda assim, ela estaria com 72 anos. A única coisa que poderia fazer neste ofício e ambiente era ser cafetina. Aos 72 anos, até as prostitutas estão cansadas e precisando de aposentadoria. No entanto, quem idealizou o panfleto está certo. E corresponde a uma fantasia masculina. A ideia de encontrar uma mulher bonita num bordel não é nova. O romancista Joseph Kessel, que nasceu na Argentina, escreveu uma história magnífica sobre uma mulher rica, bela e de classe que se diverte num bordel, para espantar o tédio. O nome do livro é “Belle de Jour”, que virou filme com Catherine Deneuve e direção de Luís Buñuel. A diferença entre o panfleto que peguei na Praça Tiradentes e a história de Kessel é que o sujeito que ia ao bordel francês encontrava uma mulher maravilhosa, porque era ficção. E o que for ao bordel do centro da cidade não vai ter a mesma sorte.