Godofredo Vicente de Carvalho era dono de bar em Castro, casado e tinha um filho. Ia à igreja aos domingos, gostava de futebol e não perdia jogo de seu time – o Corinthians. Um dia foi a Ponta Grossa e não voltou. A mulher, Doralice Veiga de Carvalho, registrou queixa. Os policiais disseram que um homem parecido com Godofredo foi assaltado na noite em que ele viajou. E morreu. O carro, um Uno parecido com o de Godofredo, foi incendiado. A mulher se conformou com a viuvez. Mais um drama no mundo.

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No entanto, cinco anos depois do incidente a irmã de Doralice, Zildinha da Avon, que morava em Ponta Grossa, apareceu desconfiada em Castro. Ela disse que esteve em Piraí para levar produtos para umas amigas e encontrou um homem com a cara de Godofredo. “Ele não me viu porque fiquei assustada e me escondi”, disse. Não há nada tão inquietante e misterioso no mundo dos vivos que a aparição de um morto.

Doralice teve calafrios: “Eu não vou atrás dele. Se for mentira, eu vou gastar tempo. Se for verdade eu vou sofrer”. Zildinha ficou quieta e depois que foi embora, Doralice procurou um velho policial aposentado. Contou o estranho caso e pediu para ele conferir em Piraí o que havia de verdade no relato da irmã.

Reinaldo Jungmann disse que se Doralice pagasse despesas de viagem – passagens e comida – iria, porque a sua vida se resumia a jogar damas na praça com os motoristas de táxi. “Vou me sentir útil”, argumentou. Ele viajou na semana seguinte e dois dias depois retornou com a seguinte história: “O homem de Piraí era o Godofredo. Ele tinha posto de gasolina, era casado, tinha um filho pequeno, gostava de futebol e de ir à missa aos domingos”.

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Doralice perguntou: “O senhor falou com ele?”. Reinaldo disse que não. Ele tentou. Mas quando se aproximou, um automóvel desgovernado atropelou Godofredo, que morreu espremido entre o carro e a bomba de gasolina. A mulher não acreditou na história. “Eu sabia que a senhora não ia acreditar. Por isso tomei o cuidado de cortar o dedo dele para trazer de prova”.

Reinaldo mostrou o dedo de Godofredo. Doralice reconheceu. E não teve dúvidas da segunda morte do marido. No entanto, quando Zildinha voltou a Piraí para receber o dinheiro da Avon, soube de um estranho incidente com o dono do posto de gasolina. Ele perdeu o dedo e boa grana para um velho policial. Mas desta vez Zildinha não disse nada para a irmã.

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