Em menos de um milhão de anos, o homem conseguiu se multiplicar em bilhões de pessoas, ocupar todo o planeta, mas nunca talvez na história humana, o homem se sentiu tão abandonado. Não há feras no horizonte e tampouco nas matas próximas que são cada vez mais raras, não há mais territórios a conquistar, mas também não há muita esperança de que as coisas melhorem – na realidade, ficam piores. E ninguém traduz este abandono de forma mais eloquente que o artista e fotógrafo americano Seph Lawless, do qual já falei há meses quando me deparei com suas fotos de shoppings abandonados nos Estados Unidos, porque de uma hora para outra não compensava mais serem mantidos. Ficaram expostos à indiferença, ao mato e à decadência. Agora o amigo Miguel Angelo me manda um e-mail com a curta observação: “Veja isto”.

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Mais uma vez Seph Lawless, agora mostrando parques de diversões abandonados, quase fantasmagóricos, numa cena semelhante às de shopping centers abandonados, cenas e fotos assustadoras como algumas que vi de Detroit abandonada. Estas fotos não deixam de evidenciar que alguma coisa muito inquietante acontece com o capitalismo no território em que ele mais se deu bem, a América – ou Estados Unidos. A sociedade ocidental contemporânea está com algumas cólicas insuportáveis. As chagas já não podem ser varridas para baixo do tapete. Nunca existiram tantas pessoas vivas vivendo como zumbis. Vivos como mortos. E lugares que foram alegres há poucos meses relegados a uma profunda melancolia. Lawless faz uma autópsia desta América que não consegue ocultar as feridas e os cadáveres arquitetônicos que normalmente surgem quando uma civilização desaparece – o que ainda não foi o caso da presente.

Lawless tem outro nome, mas se protege sob pseudônimo porque foi ameaçado de morte várias vezes, além de preso mais de cinquenta vezes. Ele mostra apenas uma parte da coisa. Edifícios que foram bonitos, agora vandalizados, abandonados. Lawless considera seu trabalho mais do que uma simples aventura, ele sai para explorar a decadência e profanação causada pela sociedade contemporânea. Suas fotografias causam impacto, são chocantes, mas ninguém dá resposta para elas. É um trabalho que beira as raias do macabro arquitetonico. Ele parece dizer que a América, quer dizer, os Estados Unidos, de certa forma estão mortos e uma autópsia é necessária para saber o que aconteceu.

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