Apocalíptico, Plá anuncia: “Já não sou deste mundo, sou um extraterrestre”

Passava pela Rua XV, quando o cantor mais famoso da cidade, o Plá, empunhou o violão e anunciou: “Já não sou deste mundo, sou um extraterrestre”. A gente se assusta com um anúncio assim, à queima-roupa. As letras do Plá sempre têm frases surpreendentes. Embora meus conhecimentos sobre ETs sejam escassos e Plá ande de bicicleta e nunca o vi numa nave espacial, não deixei de pensar enquanto fui adiante. Ele tem alguma razão. Se realmente é um ET, não sei. Aliás, nunca vi um ET. Com expressão plácida e barba branca ele mais parece um guru indiano. No entanto, se pegarmos a declaração como metáfora, Plá é um ET no meio da gente normal. Só este dilema já rende uma composição. O que é gente normal? Ademir Antunes, o Plá, tem respostas. Quase sempre na forma de enigma.

Em seu Calendário Plático ele dá o recado: “É melhor viver menos tempo vivo, que muito tempo morto”. Morto, no caso, metáfora para quem vive dominado por rotina sufocante. Rotina mortal, sacou? Esta a gente normal. Pelo menos foi o que eu entendi. E Plá, na condição de ET, sabe que maltratamos o planeta: “O universo tem sido complacente para com a gente”, diz. Um cara observador. Porque não estamos sendo bacanas com o planeta. E nosso ET sabe. ET que anda de bicicleta e toca violão na XV. Embora a trajetória tenha começado em 1984 quando gravava fitas cassetes, uma de cada vez, a realidade é que figurino, mensagem e aparente modo de vida de Plá nos remetem a personagens e conceitos que revolucionaram o mundo nos anos 60. Algo meio hippie, underground, poesia, musica, alternativa e mais alguma coisa.

A predileção por se movimentar pela cidade com bicicleta já demonstra que ele, como as letras revelam, pratica uma resistência pacífica ao frenesi automobilístico que toma conta, entope, transforma e faz do ato de ir às ruas uma aventura perigosa. Plá está ligado nas novas tecnologias. Basta procurar na internet. É atuante. Plá integra o MIA (Movimento Integro de Artes) que começou em abril de 2004 ao lado do Bondinho da Rua XV. E para encerrar fica aqui um dilema Plático para meditar: “Não sou dono da vida que me move, mas posso responder pelo meu movimento”. Quer mais? De um pulo na Rua XV.