Eu não sei quantas mulheres motoristas de táxi existem em Curitiba. O que sei é que nos últimos seis meses eu fui conduzido pelas ruas da cidade por três delas. A primeira vez que entrei num táxi dirigido por uma mulher, se não me engano, foi em janeiro quando eu fui entrevistar Zequinha, ex-jogador de Ferroviário e Colorado, que virou técnico na China. A última vez foi há um mês. Com um detalhe curioso: as duas últimas corridas foram feitas pela mesma condutora. Na primeira vez eu fiquei surpreso. O motivo principal era que até então só tinha feito corrida com motoristas do sexo masculino. Claro que já vi ônibus conduzido por mulheres, sabia de táxi, mas nunca andara num.

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A vida de motorista de táxi sempre me pareceu áspera, as ruas da cidade cada vez mais cheias de carros e perigos e de gente doida para uma confusão. Não achava que táxi fosse propício para mulheres. Agora acho que havia certo resíduo inconsciente de preconceito, porque a vida dentro de um táxi não deve ser mais dura que um octógono de MMA e já tem mulheres dando cacete na adversária neste ambiente que ainda continuo achando impróprio para qualquer ser humano. Aquele velho cacoete machista que diz que as mulheres não dirigem bem foi para o espaço. Ainda mais que elas são mais cuidadosas no trânsito e provocam menos acidentes.

O certo é que me surpreendi com a motorista de táxi. Surpresa que não durou cinco minutos porque a senhora nos conduziu para o destino desejado com segurança e tranquilidade. E mais: sem voltas desnecessárias, sem falar demais e sem falar de menos. Foi cortês, simpática e agradável. Mais que isso, impossível. Então, depois desta viagem inaugural achei bacana andar de táxi. Não é preconceito contra os homens, claro. É que o número de homens conduzindo táxi é maior. E entre eles têm sujeitos bacanas, como o que me transportou do São Lourenço para a rodoviária numa quinta-feira perto da meia-noite. O nome dele era Carlos. Eu disse: “Estou atrasado, e acho que vou perder o ônibus”. Ele respondeu com segurança: “Nós temos vinte minutos. O senhor não vai perder nada. Fique tranquilo”.

Como era noite, ele pode ir rápido e cheguei poucos minutos antes de o ônibus partir. Agora, a cisma fica por conta de muitos tipos carne de pescoço que não deixam saudade. Certa vez fui das Mercês para o Uberaba e paguei 34 reais. O cara foi tranquilo e me deixou feliz porque começou a falar com entusiasmo de uma reportagem que escrevi para a série da Tribuna da Verdade. E ele sem saber que o autor era o seu passageiro. Ele disse que leu aquilo como fosse um filme. Eu fiquei tão grato que fiquei com vergonha de dizer que fui eu quem escreveu. Na volta, peguei outro motorista. Era um cara bacana. Mas esperto. Deu voltas loucas e a viagem custou o dobro. Quando ele me deixou na frente do jornal e eu contei que a primeira viagem fazendo o mesmo percurso custou metade ele ficou sem graça e contemporizou.

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São os que não agem bem que criam má fama para o resto. Assim como se começar a entrar mulheres “espertas” para dirigir táxi evidentemente que o sujeito que tiver o azar de ser passageiro delas vai sair com péssima impressão e acabar generalizando, o que não é correto. Mas isto não aconteceu comigo. E ainda achei que minha experiência com as taxistas me permite dizer que elas são mais cuidadosas, corretas e amáveis. Mais uma coisa: mais organizadas. Há três meses eu estava perto da Rodoviária. Eu tirei dinheiro no caixa eletrônico e veio uma nota de 50. Fui pegar táxi. Havia vários na fila. Eu tomei o cuidado de avisar que precisava de troco para 50. O primeiro foi simpático e disse que não tinha. Eu fui a mais cinco na fila. Todos foram bacanas, mas nenhum tinha troco. Aí no último estava uma mulher. Eu pensei: “Mulher é mais organizada. Quer ver? Ela vai ter troco”. Bingo. Ela disse que tinha troco. E fez uma viagem segura, foi simpática, amável, pegou os melhores caminhos e me deixou em casa em segurança e sem ficar nervoso com nenhuma artimanha tola.