Algumas estatísticas pertinentes sobre a segunda vez

O Brasil sedia a Copa do Mundo pela segunda vez. Entra para o seleto grupo de países que não ficam na primeira. Não é para todos. Quem garantiu a segunda pela primeira vez foi o México, porque a Colômbia não aguentou a primeira e caiu fora. O México, como diria Milton Leite, topou a parada: “Deixa que eu faço!”. E fez. Quer dizer, a competição. Fez duas e não ganhou nenhuma: Brasil levou em 1970 e Argentina em 1986. O México foi bacana: fez a alegria dos hermanos. Como diria outro Milton, o Nascimento: “Amigo é coisa pra se guardar, debaixo de sete chaves”.

O segundo país a garantir a segunda, foi a Itália, que foi a primeira a ser campeã mundial pela segunda vez. A Itália levou a taça em 1934 em casa e de novo na França em 1938. Mas quando fez a segunda Copa em 1990, deixou o caneco para a Alemanha. O terceiro país a garantir a segunda, foi a França: que viu a Itália ganhar em 1938, mas não deixou o Brasil ganhar em 1998. E agora vem o Brasil: que sofreu trauma em 1950, ao ver os uruguaios levarem a taça que já tinha lugar para ela no Rio de Janeiro. O país recebe dezenas de seleções. Dentro de seis semanas vocês vão saber o final deste filme.

Aliás, Itália e Uruguai foram os primeiros a experimentar a segunda vez como vencedores: os dois países ganharam as quatro primeiras Copas do Mundo. Já que estamos falando em segunda vez, uma estatística para a qual ninguém dá valor é para o segundo lugar. É estranho, porque o segundo lugar é o mais importante depois do primeiro. O Brasil ficou pela segunda vez no segundo lugar em 1998, na França, enquanto a Tchecoslováquia ficou em segundo pela segunda vez em 1962, no Chile e a Alemanha, recordista com quatro segundo lugares, ficou pela segunda vez em segundo em 1982, na Espanha. O time dos times que ficaram pelo menos duas vezes em segundo lugar na Copa do Mundo tem ainda Itália, Hungria, Holanda e Argentina.

No caso italiano, para gáudio do Brasil. Se os italianos nos passaram para trás em 1982, na Espanha, o Brasil os deixou para trás duas vezes numa decisão: em 1970 e em 1994. As duas vezes que os italianos ficaram em segundo, a segunda vez nos Estados Unidos, com direito a um chute errado de Baggio. A Holanda também é segundona de primeira: começou sua epopeia em 1974, ficou em vice pela segunda vez na Argentina e vem como seleção experiente em ganhar o segundo lugar pela quarta fez, porque ficou nesta posição na copa anterior, de 2010. Uma candidata forte para ficar com o segundo lugar. E vai decepcionar muita gente se ficar em primeiro.  

Dizem que a Argentina é candidata forte para o título no Brasil. Mas ninguém fala que os hermanos também são experientes no segundo lugar: foram os primeiros segundos da história das Copas, inaugurando a posição que pode ser definida como “quase foi, mas não foi”. Se a primeira da Argentina em segundo foi em 1930, no Uruguai, a segunda foi 60 anos depois na Itália. Com Maradona e tudo. As pessoas que gostam de futebol e sabem de Copa do Mundo lembram que a Seleção da Hungria foi a melhor de 1954. Uma Copa que a Alemanha ganhou ninguém sabe como. Porque os húngaros eram demais – e sobravam.

O que poucos se preocupam em pesquisar é que naquele ano a Hungria conquistou pela segunda vez o segundo lugar. A primeira foi na segunda Copa da história, na Itália, em 1938. Ficar em segundo dá uma sensação ruim. Ainda mais se o time é considerado o melhor da competição, embora ninguém explique como pode ser tão bom se não ficou em primeiro. A paradoxal equação de times bons que sucumbem ocorreu várias vezes e vitimou além de Brasil em 1950, a Hungria em 1954, a França em 1958, a Espanha em 1962, a Alemanha em 1966, a Holanda em 1974, o Brasil em 1982, a Dinamarca em 1986 – e muitos nem ficaram em segundo. São situações que entristecem equipes que encantam, mas convenhamos: dão charme tosco ao segundo lugar. Pensem nisto, porque se o Brasil chegar a uma final, corremos este risco. De ficar em segundo pela segunda vez na segunda copa que o país organiza.