A vedete do ano vai entrar em campo na Copa?

A banana está em evidência. Não é por causa da serigrafia de Andy Warhol. Na Europa é jogada em jogadores de pele escura. Levar a sério pessoas que fazem isto é como cair no esgoto. No entanto, se alguém não faz nada, os intolerantes são capazes de tentar repetir o que fizeram nos anos 20 e 30 na Europa, quando tomaram o poder. E, antes de serem mortos, mataram milhões. O chato é o efeito colateral do politicamente correto, como barricada contra os bárbaros. Eu fico pensando qual a relação da nova vedete esportiva, a banana, com a Copa do Mundo, que começa em alguns dias. Justamente aqui que tem tanta banana.

Porque, neste caso, é como um bando de bárbaros sem munição chegar a um lugar cheio de munição e disposto a barbarizar. “Yes, nós temos bananas. Bananas pra dar e vender. Banana menina tem vitamina. Banana engorda e faz crescer”, como diria Braguinha também nos anos 30. E fica a expectativa: será que vão jogar bananas nos estádios brasileiros? A nossa intolerância subiu nos últimos anos. É o que deduzo de leitura nas redes sociais. Vamos esperar. Agora, é injusta a fama de banana atribuída a sujeito fraco e também o desprezo com que tratam este fruto, como se fosse inexpressivo. A banana tem poder. Não só pelos seus dotes nutritivos.

Um grande carregamento de bananas é capaz de disparar sensores de radiação, porque ela é radioativa. Devido ao alto teor de potássio, ela é mais radioativa que outros frutos. A banana tem isótopo radioativo potássio-40 (K). Existe até uma expressão sobre baixa radiação: “Dose equivalente em banana”. Além de tudo, tem essa: a banana é atômica. Agora, a banana é um alimento simpático, democrático e bacana. Eu gosto de banana por causa de um episódio ocorrido no dia 25 de dezembro de 1975, quando fui para Salvador. Eu andava pelas ruas da capital baiana procurando uma moça chamada Gabriela e que tivesse a cara de Sônia Braga. Dona Flor também servia, mas ela estava enrolada com os seus dois maridos.

Ainda bem que não encontrei Gabriela. Se encontrasse não sabia o que fazer: morto de fome e sem dinheiro. Quer dizer, para almoço decente. Tinha umas merrecas. Foi aí que a banana entrou na jogada. Tinha um caminhão no porto carregado de cachos de banana. Comprei um, botei nas costas e sai pelo porto. Comendo banana. Quando a primeira caiu no estômago, senti que estava vivo. A segunda deu sustança. Podia encarar Gabriela com cravo, canela e tudo. Não sei quantas comi. As prostitutas do porto, quando me viram com o cacho, se assanharam. Elas queriam a minha banana. Eu dei uma banana para cada uma delas.

Teve uma prostituta que quis retribuir em afeto. Eu não sou de aproveitar da fragilidade humana e fui em frente. Adiante encontrei dois angolanos mortos de fome. Eles atravessaram o Atlântico numa jangada improvisada fugindo da revolução em seu país. Eles não sabiam de que lado ficar na muvuca e, na dúvida, foram para o mar. Chegaram ao Brasil sem lenço e sem documentos e por isso não podiam ser considerados exilados. Na realidade, do ponto de vista legal, não existiam. Mas alguém tinha que explicar isto para os estômagos deles que roncavam mais alto que Fenemê na ladeira.

Eles me pediram bananas. Como tinha comido toda banana que consegui e também tinha dado bananas para as prostitutas, eu dei o resto do cacho para eles. Eles ficaram felizes. Eu percebi que podia passar o resto dos dias em Salvador procurando Gabriela – não ia encontrar, ela morava em Ilhéus – comendo banana. Eu guardei este segredo por muito tempo até encontrar um amigo nos anos 90 que ganhava o mesmo que eu e todo fim de ano ia para Búzios. Um dia ele me contou o seu segredo: ele ficava num hotel numa cidade pequena a 30 quilômetros de Búzios, pagando mixaria por diária. Toda manhã, bem cedo, ia de carro para Búzios. Com um cacho de bananas no porta-malas. Na hora do almoço era banana e no fim de tarde banana. Foi ele quem me disse: a banana é uma solução. Mas não para entrar em campo na Copa do Mundo.