A última batalha de Napoleão foi por um lugar no banco de um ônibus

A gorda entrou no ônibus e o cobrador olhou: “Será que passa?”. A dona pagou, entrou na catraca e fez jogo de corpo. Ela nem fez cara feia, devia estar acostumada com a manobra. Passou e sentou no primeiro banco do lado direito, ao lado do cobrador. Napoleão olhava pela janela as garotas na calçada. Olhar cansado, chapéu marrom escuro e cabelos e grisalhos.

Quando a gorda sentou ele sentiu a pressão. Para a gorda acomodar no banco duplo e não cair no corredor teria que fazer com Napoleão o que fez com a catraca. Botar pressão. A catraca resistiu, mas Napoleão ficou espremido entre a gorda e a janela. O celular da gorda tocou e ela disse: “Alô? Fala pra ela esperar que eu tô no ônibus”.

Pela conversa, Napoleão deduziu que a gorda era manicura e se chamava Josefina. Porque ela disse que estaria no salão em meia hora: “Ou não me chamo Josefina”. Quer dizer, havia a chance de “Josefina” ser gíria. Neste caso, Napoleão não sabia o nome dela. Por isso disse: “Filha, você me esmagou”. A gorda olhou o velho e perguntou: “O senhor quer dizer que eu sou gorda?”. Napoleão gemeu: “Você é gorda. E deve pesar mais de sete arrobas”.

A gorda não gostou, embora não soubesse quantos quilos tinham uma arroba: “Como o senhor sabe? O senhor é balança?”. Napoleão gemeu mais uma vez: “Eu fui açougueiro. Conheço carne de olhar”. Ela fez cara de quem não gostou. Napoelão apelou para a matemática: “Você tem direito a 50 por cento do banco e agora ocupa 75 por cento”. A gorda disse: “O senhor quer que eu faça o quê? Que deixo a metade da bunda no corredor?”.

Napoleão gemeu de novo. A gorda disse: “Não posso fazer nada”. Napoleão olhou suplicante o cobrador. Que deu uma de Pôncio Pilatos. Ele pensou: “Não tenho nada com isso”. E lavou as mãos. A pior coisa para uma pessoa é sentir-se um rato. Napoleão sentia-se rato esmagado e sardinha enlatada entre a gorda e a janela. Por isso, usou as parcas energias, fez movimento de corpo combinado com a respiração e, num golpe decisivo, empurrou a gorda.

Ela escorregou no banco e caiu de bunda no corredor. Ela disse: “O senhor me agrediu!”. Napoleão disse: “Eu só respirei”. Antes de a gorda levantar e avançar, ele deixou o banco e foi para o fundo do ônibus. A gorda viu o banco vazio e achou melhor dar a coisa por encerrada. Napoleão desceu no ponto da praça. Ele viu um banco vazio na praça, foi lá, sentou e ficou com cara de amuado.