Não é de hoje que o homem gosta de uma estrela – os antigos olhavam à noite para o céu e os contemporâneos olhavam para a tela do cinema. Estrela, diva, divina, atriz, os nomes são vários. As estrelas de cinema cativaram o homem moderno. Porque uma estrela sempre aparece bela, está sempre num contato íntimo com o sujeito – ela se apresenta para todos, mas estabelece um vínculo pessoal e emocional com cada um, como se fosse mágica.

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Há um tipo curioso que não se preocupa se a dona é um grande nome do mundo artístico: é o dono da oficina mecânica que, mais prático, gosta mesmo é de mulher bonita e gostosa, seja divina ou não. Ele deve raciocinar da seguinte forma: eu não vou pegar mesmo, então quero que seja bonita e fique na parede da oficina para eu ficar olhando quanto estiver cansado. E faz até certo sentido. E ele forra as paredes da oficina com posteres de mulheres lindas, a maioria anônima.

Quando eu era garoto, as divas mais atraentes eram estrangeiras. Brigitte Bardot despontava porque posou pelada com seu biquinho sensual, mas as outras que a gente via no cinema estavam na ordem do dia e eram dezenas, talvez centenas: Kim Novak, Marilyn Monroe, Sofia Loren, Claudia Cardinale, Gina Lollobrigida, Jeane Moreau, Ursula Andress, Julie Christie, Elizabeth Taylor, Monica Vitti, Virna Lisi, Heddy Lammar e centenas de outras. A lista é grande.

Maior que a lista era nossa imaginação. Eu ia ao cinema e saia apaixonado. Nem queria saber. Um belo dia eu fui na biblioteca pública e vi uma revista antiga com fotos mais antigas ainda de Greta Garbo e me apaixonei pela dona. Que naquela altura do campeonato estava com sessenta anos. Mas como diria o dono da oficina mecânica, eu não ia pegar mesmo e continuei apaixonado por algum tempo.

Quando fiquei maior, jovem, pensei que esta coisa besta de ficar louco por divinas das artes cinematográficas e mundanas ia passar. Mas não passou. O negócio ficou ainda mais crônico. Porque, ao contrário dos anos anteriores, entrararam em cena as brasileiras. E entraram em grande estilo. Peladas, nas páginas das revistas Homem, Status e Ele & Ela. E naquele tempo mulher pelada o sujeito só via mesmo quando casava com a dona ou se fosse ao bordel. Mulher pelada não estava dando sopa.

E começou a aparecer aos montes. A primeira que arrombou a nossa imaginação foi a Rosy Di Primo, divina loira em cima de uma motocicleta com uma tanguinha minúscula. Depois veio Vera Fischer. Eu a conheci pessoalmente – quer dizer, ela passou na minha frente num dia de 1971 quando ainda era Miss Brasil, no estádio Willie Davids em Maringá.

Que coisa linda. Alta, bela, loira, imponente. Mulher mais bonita não precisava. Estava elegante. E quando pensei que nunca mais fosse revê-la, a revi no cinema sem roupa. Aquilo sim foi revolução. Nunca eu e amigos nos cansamos de vê-la no cinema. Na década de 70, as brasileiras fizeram uma revolução de comportamento em plena ditadura. E quem ganhou foram os cineastas que inventaram um pornô light.

Os nomes das nossas estrelas também se contavam aos montes. Sandra Bréa, Sônia Braga, Aldine Muller, eram tantas e belas que a gente ficava maluco. Elas não sabem, mas foram as deusas de nossas ruas pelo Brasil afora, de garotos que ficavam sonhando com elas. Quando eu vejo hoje a mulherada sem graça do cinema e televisão da atualidade, dá uma saudade destas donas, que hoje são senhoras, tão enrugadas, mas causaram furor. E sem querer querendo eu me apaixono de novo. Afinal, mais que antes, estão fora de meu alcance. Mas não da memória, assim como não estiveram longe da imaginação. A essência de nossa relação que era o impossível continua a mesma. Como as estrelas do céu, a gente só olhava e sonhava com elas. 

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