A dança noturna das velhas mulheres num lupanar suspeito

Logo de manhã e uma vez na calçada eu comentei com J. Bressan: “O Gran Ritz Hotel na realidade não foi construído para ser um hotel, mas um museu pessoal, cheio de quadros e agora se encontra abandonado”. Bressan levou aquilo para o lado pessoal e disse: “Pare de falar mal do hotel que ele é bacana e barato”. Depois disso, enquanto a gente andava ele ia dizendo: “Estou apaixonado!”. Aquilo começou a dar nos nervos e eu perguntei: “Você está ficando louco?”. Ele disse que toda vez que via uma uruguaia bonita se apaixonava no ato. Era automático. Eu achei que depois de conhecer o garçom Júlio Cesar ele também estava ficando louco. Então ele disse: “As uruguaias são bonitas, mas são muitos sérias. E nenhuma é tatuada, você reparou?”. Eu disse que era precipitado falar sobre tatuagens.

Eu não encontrei nenhuma garota tatuada. No entanto, argumentei que eram discretas e podiam ter uma tatuagem escondida, para mostrar a alguém especial como regalo num momento caliente. Bressan disse: “Eu não quero comprar casaco de couro. Eu quero levar uma uruguaia para a cama!”. Eu observei que a cama do hotel era pequena e eu não ia ceder a minha para juntar as duas e ele dar vazão à sua luxuria. Ele disse que queria fazer isto longe do hotel. Fiquei tranquilo com a informação. Então encontramos uma uruguaia sorrindo. Ela foi gentil e entregou um papel para Bressan. Ele leu e me entregou. Eu li: “Você pode desfrutar das melhores garotas uruguaias, tomar uns tragos e ver um show especialmente para você. Te esperamos na Calle Ferreira Aldunate, esquina com San José, 1305”.

Eu disse que o endereço devia ser o de uma casa de má reputação, como deviam dizer os moradores de Montevidéu. Ou, como dizia antigamente, um lupanar. Bressan respondeu: “Não quero saber se a casa tem boa ou má reputação. Eu vou dar um pulo lá hoje noite. E vou te contar uma coisa, velho, hoje eu me acabo”. Eu disse para ele não ser muito otimista e tomar cuidado com as suas finanças. O resto do dia foi tranquilo, conhecemos um pouco mais a cidade e à noite, cansado, eu fui para o hotel. Bressan foi para o que ele chamou de Casa de Las Chicas. Eu disse que Covil das Lobas era um nome mais sugestivo. Ele gostou: “O lobo está indo para o Covil das Lobas”. Eu disse pela última vez: “Não seja tão otimista! E cuidado com a carteira”.

Duas horas depois Bressan voltou abatido para o hotel. Eu pensei que ele foi assaltado. Não foi. Ele contou: “Velho, nunca tomei tanto chimarrão na vida”. E contou a aventura da noite: na Casa de las Chicas ou no Covil das Lobas, que na realidade era um apartamento num velho e decadente edifício na Calle Aldunate, em vez de encontrar as melhores garotas do Uruguai, ele encontrou as mais velhas meretrizes do continente, pintadas como índios sioux e usando roupas extravagantes. “Na hora perdi o interesse, velho”, contou-me. Mas a porta se fechara atrás dele e a cafetina perguntou: “O que quieres, señor?”. Ela estava com garrafa térmica de aço inoxidável, cuia de chimarrão e uma bomba que ia e voltava lentamente aos lábios, dando ao ato de tomar chimarrão uma tensão e um mistério nunca vistos na história de Montevidéu.

Bressan olhou a dona, olhou a cuia, viu bomba e percebeu que tinha que fazer algo com urgência: “Quiero tomar chimarrão com usted”, disse num espanhol que saiu tão fluente quanto a água quente do banheiro do hotel. Dizem os apreciadores de chimarrão que nunca se pode negar uma cuia a um estranho. A messalina ofereceu a cuia e Bressan sentou no sofá com ela e ficou tomando chimarrão e observando algumas donas se contorcer diante dele, como se elas estivessem com cólicas. Aquilo não ia sair de graça. “Viejo, aquilo durou duas horas. E quando sai vivo e sem 500 pesos no bolso, me senti um felizardo”. Para não deixá-lo triste eu disse que invejava a vocação dele para aventuras perigosas. “Mas, você está certo, viver é correr riscos”, conclui sonolento. De qualquer forma, na manhã seguinte ele perdeu a mania de ver uma uruguaia bonita e dizer: “Estou apaixonado!”.