Maria Falce de Macedo: uma mulher à frente de seu tempo

Maria Falce de Macedo rompeu barreiras, desafiou preconceitos e lutou contra uma mentalidade patriarcal que imperava na época. Há 110 anos, a filha de imigrantes italianos nascida no dia 15 de janeiro de 1897 em terras curitibanas, entrava para a história ao ingressar na primeira turma de alunos da Faculdade de Medicina da Universidade do Paraná (atual Universidade Federal do Paraná) em 1914.

Há 110 anos, Maria Falce começava a escrever o seu nome como a primeira médica do Paraná. A colação de grau ocorreu em 1919.

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As aulas tiveram início em 16 de março de 1914. Na época eram muito raras as mulheres que se dedicavam aos estudos médicos, até então considerados um privilégio masculino. Seus pais, Pietro e Philomena Falce, que eram proprietários da Empresa Funerária Falce, ficaram orgulhosos com a nota 9,9 que ela recebeu no exame final, o que lhe garantiu concretizar o sonho de se formar em Medicina. Na oportunidade, ela defendeu a tese “Em torno de um caso de ascaridiose hepática”.

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Maria Falce foi a única integrante feminina da turma de 15 alunos e chegou a ser recebida com restrições pelos colegas, mas logo o seu comportamento conquistou a simpatia e o respeito de todos. No seio da sociedade curitibana muita gente olhava torto para sua atitude. Ela não se abalava. Pelo contrário, continuava seus estudos tendo um desempenho considerado brilhante por seus professores.

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Logo depois da colação de grau, casou-se com o colega de curso José Pereira de Macedo. Até 1919 a Santa Casa de Curitiba não dispunha de recursos para análises clínicas, mas havia apenas um pequeno laboratório da Faculdade de Medicina que até 1921 funcionou sob direção da própria Maria Falce de Macedo, sendo que ela não recebia nenhuma remuneração para exercer tal atividade.

Em 1923, ela fez curso de Bacteriologia e Zoologia Médica no Instituto Osvaldo Cruz no Rio de Janeiro. Ao lado do marido, estagiou no Instituto Oswaldo Cruz (Manguinhos) no Rio de Janeiro. No seu retorno à capital paranaense, assumiu a Chefia do Laboratório de Análises Clínicas da Santa Casa. O casal chegou a participar, em 1926, da caracterização epidemiológica do surto de peste bubônica de Paranaguá.

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Antes, em 1922, eles fundaram um laboratório de análises clínicas, o primeiro de Curitiba e do Estado, que ficava na rua Conselheiro Laurindo esquina com Marechal Deodoro. O Laboratório Falce de Macedo prestou serviços de análises clínicas por mais de 20 anos. A doutora Maria Falce teve como estagiária Fani Frischmann, que, depois de formada, assumiu o Laboratório em 1945, junto com seu marido, o também médico Oscar Aisengart.

Em 1925, Maria Falce de Macedo enfrentou outro desafio ao aceitar a regência da disciplina de Química Orgânica e Biologia Médica dos cursos de Medicina e Farmácia da Universidade do Paraná.

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Quando resolveu se inscrever para o concurso de cátedra o então Diretor da Faculdade negou seu direito de inscrição. Entretanto, conseguiu vencer mais essa dificuldade e, em 1928, se submeteu a um concurso de títulos e provas, concorrendo à cátedra com a tese “Variação do teor em uréia do sangue conforme o modo de colheita do material.” Aprovada em concurso assumiu, em 31 de janeiro de 1929, a cátedra de Química Médica do Curso de Medicina em sessão solene da congregação.

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Maria Falce de Macedo mais uma vez fez história: foi a primeira mulher a ocupar uma cátedra em curso superior no Brasil. Lecionou por 41 anos e, depois de aposentada, recebeu, em sessão solene da UFPR, o título de “Professora Emérita”.

Falecida em 1972, deixou um legado imensurável e que transcende gerações.

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