Bento Viana: o homem que mesmo traído lutou pela emancipação do Paraná

Imagem gerada com apoio da Inteligência Artificial / BING

Um nome de rua e de estação-tubo. Estas são as principais homenagens de Curitiba para um dos primeiros homens que lutaram pela emancipação do Paraná. Nascido em 1775, em Paranaguá, Floriano Bento Viana ingressou nas forças militares, alcançou o posto de capitão e se tornou um dos principais defensores do movimento que visava separar o Paraná da capitania de São Paulo.

Era dia 15 de julho de 1821 e uma multidão tomava conta da praça pública de Paranaguá. As autoridades estavam diante do juiz de fora Antonio Azevedo de Melo e Carvalho. Todos deram juras de lealdade às bases da Constituição do Reino Unido de Portugal e Brasil, elaborada pelas Cortes de Lisboa.

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Inesperadamente, o capitão Floriano Bento Viana, sem titubear, ordenou em alto e bom som para que a comarca de Curitiba e Paranaguá fosse emancipada da capitania de São Paulo. “Queremos que nomeie um governo provisório e que nos governe em separado”, disse o então comandante da guarda do Regimento de Milícias.

Durante o brado, conhecido pelos livros de história como Conjura Separatista, Bento Viana determinou ainda que a situação fosse comunicada imediatamente a Dom João VI. O juiz ouviu o discurso do capitão até o interromper: “Ainda não é tempo”.

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Viana retrucou e esperou que outros que lutavam pela emancipação se pronunciassem. Mas ninguém ousou tomar a palavra. Não se sabe se por covardia, medo, inércia ou timidez. O que Viana viu foi todos os seus colegas amedrontados diante da rápida e pronta resposta do magistrado. O capitão foi abandonado na luta pela emancipação do estado. Havia sido enganado por seus próprios companheiros.

Solitário em sua proclamação, ele só escapou de severas punições porque a Coroa Portuguesa reconhecia seu valor e sua lealdade.

O que mais intrigou Viana foi ter sido desamparado em um momento tão importante. Para agravar a situação, seu pronunciamento já havia sido combinado com demais líderes emancipacionistas, que inclusive o haviam procurado alguns dias antes. Essas lideranças julgavam imprescindível o apoio e a liderança do capitão.

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Idealistas de Paranaguá queriam aproveitar o evento e cobrar a emancipação da região. Após diversas reuniões secretas, o sargento Francisco Gonçalves da Rocha e o capitão Inácio Lustosa de Andrade planejaram o feito. Mas precisavam de um homem de coragem para peitar as autoridades e lançar o brado de liberdade. A pessoa que se enquadrava nesse perfil era justamente Bento Viana. O grupo, segundo o historiador Osvaldo Pilotto, já havia até selecionado alguns nomes para compor o governo provisório.

Dentre os motivos que fizeram com que Viana desafiasse a autoridade judicial estava o abandono político, econômico e social em que se encontrava a região, além da falta de justiça. A distância de São Paulo impunha dificuldades físicas para entrar com recursos judiciais perante as autoridades paulistas e até causava escassez de moedas na comarca.

Os apelos de Viana foram sumariamente ignorados e a Conjura Separatista terminou com a pronta negativa das autoridades. O movimento acabou sem nem mesmo começar.

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Bento Viana morreu em 1850 sem ver a sua luta concretizada. Hoje, a Rua Bento Viana tem cerca de um quilômetro e meio de extensão, da Avenida Água Verde e até a Avenida Batel e a estação-tubo que o homenageia se localiza no bairro Batel.

Emancipação só veio três décadas depois

Somente 32 anos depois do brado de Bento Viana em Paranaguá é que o sonho de emancipação se concretizou. Para isso foram necessários muita persistência e jogo de cintura político. Lideranças como o tropeiro Francisco de Paula e Silva Gomes e Manuel Francisco Correia Júnior, que tinham um bom relacionamento na Corte, articularam diversas campanhas emancipacionistas.

Paula Gomes imprimia folhetos de propaganda em prol da separação do Paraná e os distribuía em suas andanças como tropeiro. Correia Júnior, que era coronel da Guarda Nacional, também sempre lutou para conseguir adeptos para a causa da emancipação.

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Todas as solicitações enviadas ao governo imperial eram negadas. A situação mudou a partir de 1835, quando começou a Revolução Farroupilha no Rio Grande do Sul, que lutou contra o regime imperial. A situação política no Rio de Janeiro e em Minas Gerais era parecida. O Partido Liberal dos dois estados se articulou contra o governo da época devido à promulgação de leis que julgavam conservadoras.

A situação ficaria mais crítica se os liberais mineiros e fluminenses se unissem aos revoltosos gaúchos. Dessa forma, eles formariam uma frente única revolucionária que poderia abalar os pilares imperais.

O governador de São Paulo, Barão de Monte Alegre, preocupado com a situação, propôs um acordo: caso as forças militares da comarca de Paranaguá e Curitiba se aliassem às forças do Império, ele iria lutar pela emancipação do Paraná.

A proposta foi aceita e a promessa, cumprida. Em 1842, Monte Alegre solicitou ao governo imperial a separação da região paranaense. O deputado paulista Carneiro de Campos apresentou o projeto de emancipação da nova província. As discussões acerca do tema duraram 10 anos no Legislativo Imperial. Deputados paulistas temiam a separação e se esforçavam para derrubar o projeto e adiar a votação.

Somente em 1850, já no Senado, o assunto voltou a ser debatido. Naquele ano fora aprovado o projeto para criar a província do Amazonas enquanto a discussão acerca da emancipação do Paraná prosseguia, com entraves apresentados por deputados paulistas.

Apenas em agosto de 1853 o projeto que criava a província do Paraná foi aprovado e sancionado pelo imperador Dom Pedro II. Com toda a discussão resolvida nos altos escalões imperiais – sem nenhuma participação popular – a província paranaense foi instalada no dia 19 de dezembro daquele ano e seu primeiro presidente foi o baiano Zacarias de Góes e Vasconcelos.

Rua Bento Viana. Foto: José Fernando Ogura/SMCS.
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