Nos finais de ano, em geral, a religiosidade está mais aflorada no cotidiano do brasileiro. A celebração do Natal intensifica a prática da fé de muitas pessoas. Não por acaso, esta coluna irá se dedicar a contar a história de um santa popular da capital paranaense: Maria Bueno.
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Maria da Conceição Bueno era “parda e “pobre” e adorava dançar, segundo descrições da época. Gostava de frequentar os bailes que a sociedade curitibana organizava nos finais do século 19. Foi em um desses eventos que ela conheceu Ignácio José Diniz, que prestava serviço no Exército. Passaram-se alguns meses e tudo corria bem até que uma discussão entre os dois provocou aquele que foi o primeiro caso de feminicídio com grande repercussão em Curitiba e no Paraná.
Maria Bueno, que era natural de Morretes, foi brutalmente assassinada aos 29 anos por Ignácio José Diniz em um local próximo à atual Rua Vicente Machado, no centro da capital.
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Dentre os vários relatos sobre o caso, conta-se que no local do assassinato foi colocada uma cruz de madeira e que a região teria se tornado um espaço de preces e devoções. Alguns devotos passaram a afirmar que tinham os pedidos atendidos por Maria Bueno. Até hoje, o túmulo de Maria Bueno, localizado no Cemitério Municipal São Francisco de Paula, é visitado por pessoas que oram por ela e pedem sua interseção. Virou, assim, uma santa popular de Curitiba.
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Maria Bueno foi degolada em uma noite quando Diniz deveria estar de serviço no quartel. Ele não queria que Maria fosse a um baile. Brigaram, discutiram e ela acabou indo até a festa.
Durante a noite, Diniz saiu do quartel e ficou furioso ao vê-la no baile com as amigas. Quando ela saiu, ele estava escondido e, furioso, a atingiu fatalmente com um punhal.
Era então madrugada do dia 29 de janeiro de 1893. O crime abalou a Curitiba da época. A polícia iniciou o seu trabalho, procurando descobrir o autor do assassinato. A necropsia foi procedida pelo médico Rodolfo Lemos, tendo presidido o inquérito o chefe de polícia Brasílio do Amaral, conforme consta no jornal Gazeta do Povo, em uma reportagem especial publicada no dia 18 de janeiro de 1934.
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O inquérito das testemunhas foi procedido pelo juiz distrital Cícero Gonçalves Marques. Foi descoberto que o autor do crime era o próprio Diniz. O julgamento foi presidido, então, pelo magistrado Artur de Ciqueira. O corpo de jurados foi constituído por 12 indivíduos.
O júri aconteceu no dia 12 de julho de 1893, tendo atuado como defensor do réu o profissional João Antônio Xavier, nomeado pelo juiz.
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O julgamento, realizado em uma das salas da Câmara Municipal, movimentou o município. A capital paranaense era considerada uma cidade provinciana e pacata, com menos de 30 mil habitantes. O crime abalou a população pela crueldade com que foi cometido. Todos queriam saber o resultado do júri. A imprensa local acompanhou e noticiou o trâmite judicial.
O processo começou às 11 da manhã e só terminou no período da noite. O júri decidiu absolver o acusado. Os processos sumiram – muito provavelmente pela passagem da Revolução Federalista na capital.
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Não se sabe os argumentos, mas o júri, formado por membros da sociedade, o absolveram. Apenas uma parte das atas do julgamento permanece nos arquivos do Museu do Tribunal de Justiça.
Mas, segundo a publicação Gazeta do Povo, como tratava-se de crime de homicídio e “não tendo o réu sido absolvido por unanimidade e diante da apelação” da promotoria, Diniz foi mantido preso e, além disso, foi desligado das forças militares. Diniz foi recolhido à cadeia civil, então situada na esquina do largo do Mercado, hoje Praça Generoso Marques, com o largo da Matriz, atual Praça Tiradentes.
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Na Revolução Federalista de 1894, quando Gumercindo Saraiva tomou conta de Curitiba, o caos foi instalado na cidade e Diniz conseguiu sair da prisão. Mas, solto, ele cometeu outro crime e foi fuzilado pelas tropas federalistas.