Em 1668, quase duas décadas depois de Ébano Pereira ter anunciado a descoberta de ouro na região que atualmente integra Curitiba, a localidade era formada basicamente por um agrupamento de casas em torno de uma capela. Essa capela, ensina o historiador Renato Mocellin, teria sido erguida em 1650 para o culto de Nossa Senhora da Luz.
Naquela época, a comunidade não era reconhecida sequer como uma Vila. A lei portuguesa exigia um mínimo de 30 famílias (ou como se dizia na época, “fogões”) para que uma localidade tivesse autoridades e Câmara Municipal. Esses 30 “homens bons” deveriam ser casados e proprietários de terra. “Homens bons” era a denominação que se dava aos homens adultos, casados e proprietários de bens e escravos.
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A população reivindicou ao capitão-mor de Paranaguá (cuja Vila tinha sido criada 20 anos antes e já gozava de autoridade própria), Gabriel de Lara a elevação de povoado para Vila.
Sem refutar, Lara – já reconhecido como uma autoridade portuguesa na região – ordenou a elevação do pelourinho, símbolo de posse da Coroa lusitana. Entretanto, a localidade ainda não seria considerada vila antes que fosse feita a eleição para a Câmara de Vereadores. Nesse mesmo ano, Mateus Leme, morador da povoação desde 1661, foi nomeado capitão-povoador, que, desta forma “passou a dirigir a comunidade com amplos poderes”, como escreve Mocellin.
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Vale explicar que anos antes, em 1617, Gabriel de Lara havia fundado uma povoação relativamente organizada na Ilha da Cotinga, que depois foi transferida para a margem esquerda do rio Taquaré (hoje, Itiberê) para faiscar ouro no litoral do atual Paraná. O historiador Ruy Wachowicz escreve que apenas na primeira metade do século 17 foi que Lara anunciou oficialmente às autoridades portuguesas a descoberta de ouro em Paranaguá. Dessa forma, efetivou-se na prática a mineração no litoral do estado. Nessa época, ocorreram outras descobertas do precioso metal pelo litoral paranaense. Foi o início efetivo da fase de mineração no Paraná.
Voltando a tratar sobre a situação do povoamento curitibano na segunda metade do século 17, deve-se ressaltar que a população passou a conviver frequentemente com a presença de aventureiros que procuravam explorar as regiões auríferas da comunidade, que se esgotavam dia após dia. Para piorar, no começo da década de 1690, o descontentamento com Leme crescia.
Os moradores reclamavam que não tinha nem lei e nem ordem. “Conta-se que na quaresma de 1693, para escândalo dos fiéis, dois moradores armados digladiaram-se no interior da igreja”, escreve Mocellin.
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Wachowicz salienta que “o isolamento da povoação contribuía para que tais desmandos ficassem impunes”. Afinal, como explica o autor, a comunidade “estava separada do litoral por uma barreira íngreme da Serra do Mar, distava de São Paulo por mais de 110 léguas e para o oeste nada mais havia senão sertão bravio”.
Neste final do século 17, a povoação de Nossa Senhora da Luz e Bom Jesus dos Pinhaes contava uma população de 90 homens bons. Muitos deles haviam construído suas casas ao redor da capelinha existente no centro da atual Praça Tiradentes. O crescente aumento da população exigia o estabelecimento de regras que normatizassem a vida em sociedade. Para resolver a situação social, bastante caótica, alguns moradores solicitaram, através de requerimento, a realização de eleições e a criação da Justiça e da Câmara.
Assim, em 1693, finalmente foi criada a Câmara em 1693, e, finalmente, a povoação recebeu o predicado de Vila. O pelourinho ficou em pé até 1704. Depois dessa data a madeira apodreceu. Wilson Martins descreve que o pelourinho possuía quatro argolas de ferro e era usado para castigar escravos e criminosos.
Já a Câmara Municipal, por não ter sede própria, realizava suas sessões na igreja. A população, por sua vez, vivia em sítios próximos ao núcleo central e residia em casas de pau a pique, preenchido com barro e o assoalho feito de terra batida. Esse era o retrato de uma Curitiba que começava a trilhar seu caminho.