As dores e incômodos da gravidez deveriam ser dos homens, não das mulheres

Os homens deveriam sentir a dor do parto. Foto: Arquivo Pessoal

É bem provável que sua primeira impressão seja de pouco caso ao que vou dizer, mas direi mesmo assim: Se eu pudesse, compartilharia as dores e incômodos que minha esposa Beatriz sente nas semanas finais de gravidez. Aliás, não só agora. Toparia sem susto encarar os enjoos do primeiro trimestre, o sono zoado, as dores nas costas, a dificuldade de fazer qualquer coisa com uma barrigona linda de quase 36 semanas, bem como as cólicas e boa parte das contrações de treinamento.

Ser parceiro é, no mínimo, achar injusto que todo o fardo fique com elas.

Não quero me apropriar do privilégio que é gerar uma vida. Não é um “macho” querendo tomar para si o milagre da vida. É um marido apaixonado, sentindo-se impotente diante dos inúmeros incômodos e dores causados pela gravidez. É sacanagem. É injusto.

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Agora, injusto mesmo, sacanagem mesmo, é ver que alguns pais fazem pouco caso disso. Tudo bem não desejar compartilhar as dores (sei que sou um fora da curva neste quesito), mas a boa parte dos pais (não temo nem dizer que é a maioria, pois trombamos com casos semelhantes a cada esquina) considera as reclamações como frescura, coisa de mulher.

Minha Bia compartilhou comigo uma série de relatos que ela colheu num dos inúmeros aplicativos e comunidades que reúnem grávidas de todo o país. Um dos que mais me chocou foi de uma moça, que disse o seguinte:

“Estou com 31 semanas e não tenho o mesmo pique de antes. No momento não estou trabalhando (só meu marido), porém ele não me ajuda em nada em casa pelo fato que estou sem trabalhar. Além disso, ele bagunça tudo, todo dia eu arrumo a casa, é roupa jogada pra todo canto, quando come suja a mesa, tira roupa joga no chão. Enfim, no início da gestação eu estava fazendo tudo de boa. Porém agora eu estou exausta disso. Já chorei tanto hoje. Fiz uma faxina pesada a casa (estava precisando) e ele ainda ficou de piada porque eu fiz a faxina com cara feia. Disse que se for pra fazer as coisas de cara feia que nem faça. Me viu fazendo, morrendo, e não me ajudou. Estou morrendo de dor na lombar agora. Meu medo é quando o bebê nascer as coisas vão piorar e quem vai se ferrar sou eu. Já conversei várias vezes de que eu preciso de ajuda, porque eu estou grávida e quando o bebê nascer vou precisar ainda mais. Eu amo meu marido, mas juro que tem horas que dá vontade de sumir”.

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Bom, vamos lá. Queixo-me desde sempre do machismo incrustrado na nossa sociedade e aqui temos mais um exemplo de como as coisas funcionam por aí. Além de mãe, a mulher é empregada do marido. E é assim com namorados, ficantes e até amantes. O homem no posto de ídolo a ser adorado e bajulado. A mulher na posição de servir a agradar. Mas em que droga de valeta da linha do tempo esses papéis foram instituídos?

TÁ ERRADO. Os dois moram na casa, os dois sujam a casa, os dois limpam a casa. Há séculos os homens são criados para ocupar o posto de chefia da casa, com todos ao seu redor trabalhando como criados. Já passou da hora disso mudar. Não existe relação amorosa sem parceria. São parceiros, não empregados. Não se paga a uma esposa um salário de esposa no final do mês, então porque diabos se age assim? O que o cara entrega para a relação para agir como chefe do relacionamento? Via de regra, muito pouco. Quase nada.

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Aí dá risada e faz pouco caso do esforço da mulher, sem ter a mínima noção ou pelo menos o bom senso de imaginar quão árdua é a jornada de uma mulher grávida. TÁ ERRADO. O homem precisa ser no mínimo um ser humano funcional, não uma divindade que precisa de paparico e orgasmos fingidos para lhe massagear o ego.

Me dói, mas me dói mesmo, ler a frase: “Eu amo meu marido”. Minha amiga, você não precisa disso. Aliás, aqui vai o puxão de orelha nas mulheres (estou ciente de que vocês foram criadas neste ambiente e ensinadas a conservar essa dependência dos homens). Parem de aceitar tão pouco, de serem as mães de seus namorados e maridos. Não estou dizendo para não amá-los, quando de fato eles merecerem seu amor. Mas NÃO SE CONTENTEM COM TÃO POUCO.

O filho que vem aí não veio de chocadeira (aliás, acho digno quando uma mulher opta pela produção “independente”, já que não dá pra confiar na “homarada” média brasileira. O filho é do dois. 50% de DNA de cada um. Fifty/Fifty, meus amigos.   

Em outro dos relatos colhidos destes sites e comunidades, uma das mulheres contou algo semelhante a primeira, mas igualmente declarou amor ao companheiro e disse ainda que “ele é meu melhor amigo”. Acho que poderíamos falar um pouco sobre os conceitos de amor e amizade, mas faltaria espaço nesta postagem (mesmo que não haja limite de caracteres) para explicar que TA ERRADO ISSO).

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“Melhores amigos” não fazem isso com melhores amigos. Não os desrespeitam dessa forma. Também não fazemos essas coisas com quem realmente amamos. Mas um dia volto a este tema.

Fato é que o marido (aliás, não precisa nem estar casado e nem ser do sexo oposto) tem que ser parceiro. Casar (estar junto) foi uma escolha. Ter um filho foi uma escolha (se não foi, TÁ ERRADO também). As responsabilidades (todas elas) precisam ser divididas, no mínimo igualitariamente.

Eu amo minha esposa, eu amo nosso filho incondicionalmente, mesmo que ele ainda não tenha nascido. E mais do que amá-lo, farei o meu melhor para dar a ele um ambiente saudável, onde os pais se amam e se respeitam, onde as tarefas e responsabilidades são divididas e compartilhadas.

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E se a vida quis que sobrasse para ela todo o peso da parte ruim da gravidez, eu faço o máximo, mais até do que prevê essa tão falada divisão de tarefas, para que ela passe por esse momento necessário (porém difícil) da forma mais suave possível. Se eu não canso? Claro que canso, mas faço a minha parte. Sem cara feia e com um sorriso nos lábios.

Eu sou Eduardo Luiz Klisiewicz, marido da Beatriz e pai do Bernardo.

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