O Bernardo completou um mês. É bem difícil descrever as coisas que sentimos nestes primeiros 30 dias de vida do nosso filho. Foram inúmeras descobertas, tentativas e erros (muitos acertos), paciência com os poucos palpiteiros que aparecem (por sorte, só temos gente boa ao nosso redor) e muita boa vontade para oferecer o que há de melhor em nós para este novo “serumaninho”. É uma missão de vida, realmente.

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Agora, depois de ter vivido intensamente a paternidade nestes dias, difícil mesmo é entender como é que alguns homens deixam as mulheres sozinhas nessa hora, nesta fase, nesta missão.

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Antes de “tacar o pau” nesses malacabados, quero dizer que tenho noção de que vou opinar sobre isso numa situação privilegiada. O home-office (que fui contra lá no início da pandemia, e que por várias razões acho que será extremamente prejudicial para as relações profissionais, no jornalismo em especial) me deixa em uma posição confortável de poder acompanhar o início da vida do meu filho.

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Com isso, tenho também o prazer de vivenciar todas as experiências ligadas diretamente à criação de um bebê. Num cenário mais comum, após uma curta licença paternidade, teria que desperdiçar horas preciosas do meu dia em deslocamentos de ida e volta para o trabalho, além de ficar por seis a oito horas do meu dia longe de casa.  Nesse tempo, minha esposa ficaria sozinha com missão de cuidar do Bernardo.

E isso é uma puta sacanagem.

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Primeiro falemos da licença paternidade de cinco dias corridos. Muitas (a maioria?) das empresas oferece apenas isso para seus funcionários. É claro que não acho que a licença deveria ser igual à das mulheres. Ponto. Mas o modelo atual, além de contribuir para a propagação do machismo (só a mãe tem que cuidar de um filho?), joga toda a carga física e psicológica da criação dos filhos no início de suas vidas para as mães.

E é uma carga pesada demais.

Dá última vez que questionei coisas assim, me mandaram enviar um “zap” pra Deus para reclamar, afinal foi ele quem decidiu que as dores da gravidez e toda a responsa de criar o filho era da mãe. Mas a sociedade deveria, por força de lei ou bom senso, dividir este peso com os pais, que em muitos casos, SÓ TRABALHAM em seus empregos. Ao chegarem em casa, pouco (ou nada) fazem para ajudar aquela mulher que eles juram AMAR.

Hipócritas.

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Tem gente (vocês não fazem ideia de quanta gente) que revela as atitudes machistas, grosseiras e NADA AMOROSAS de seus companheiros em fóruns e comunidades virtuais. Já reproduzi alguns desses depoimentos em posts anteriores. E é coisa de assustar, de nos fazer repensar nossa função como seres humanos.

De peito estufado, os caras chegam em casa cheios de si, carregados com a autoconfiança dos machões provedores, reclamam da bagunça que a casa está, que não tem comida pronta, que não conseguem descansar com tanto “agito”, que o piá está chorando, que a guria fez cocô e que as companheiras ficam é de mimimi, que não dão conta de ser mãe. E ainda deixam roupas jogadas, louça na mesa, toalha no chão. Acham que têm uma mãe em casa, não uma companheira.

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Este tipo de homem não é minimamente um ser humano funcional. PIOR ainda, esta pessoa não ama verdadeiramente sua companheira. Sim, é isso mesmo. Quem ama de verdade não faz um negócio desses, meu amigo. Não é porque o cabra teve uma formação machista desde a infância, que ele tem que perpetuar este comportamento.

Falo isso sem pestanejar, mas com dor no coração, pois sei que isso atinge gente do meu convívio, pessoas que se criaram na mesma sociedade machista que eu. Mas a vida não é justa. Só espero que isso sirva de reflexão para os que vestirem a carapuça. Ajam de acordo, sejam úteis, verdadeiramente companheiros. Sabem o que é o puerpério? Então pesquisem!

Eu vivi intensamente os últimos 30 dias como pai. Repito, sou um privilegiado por estar em casa o tempo todo. Mas nesses 30 dias eu não fui pai porque contribui com minhas células na hora da concepção. Ou porque dei de mamar (na verdade, fiz isso também).

Mas fui pai arrumando a casa (afinal, eu também moro nela), fazendo comida para nós, atendendo a tudo o que minha esposa precisou, trocando fraldas (eca, que nojinho. Larguem mão, frouxos), dando banho, trocando de roupa, ninando por horas até o piá dormir. Fui um companheiro, e não “me acho” por dizer isso. Mas digo com orgulho, pois é o mínimo que deveria se esperar de um homem, de um companheiro de verdade.

De alguém que REALMENTE ama sua esposa/namorada/mãe do seu filho.

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Eu só não tenho o “têtê”. Quer dizer, até tenho, mas ele “tá seco”. Nesse caso, eu perco de lavada, pois o poder do “têtê” é algo que merece muitos capítulos na história da humanidade. Elas tem o poder, elas tem o privilégio.

A nós, homens de verdade, resta a missão de fazer o máximo para tornar mais suave a rotina das mães dos nossos filhos. Isto porque as dores continuam, os incômodos idem, as poucas horas de sono, o cansaço físico e psicológico. Tudo isso, eu garanto, fica mais fácil de enfrentar se formos a rocha que elas precisam, se formos companheiros de verdade, se formos PAIS.

Se ser mãe é um serviço em tempo integral, ser pai também é.

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Eu sou Eduardo Luiz Klisiewicz, marido da Beatriz e pai do Bernardo.

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