As dores e alegrias de uma nova vida contada em semanas, não meses

Roupinha que encomendamos para anunciar a primeira gravidez. Reaproveitamos com um pouco de humor para disfarçar nossa dor. Foto: Eduardo Luiz Klisiewicz

Estamos na 21ª semana, prestes a entrar na 22ª (contamos o sábado como o dia da virada). Esse negócio de contar semanas e não meses é muito bizarro. Eu era aquele, como tantos de vocês, que quando uma grávida vinha com esse papo de semanas já falava: “Ô, fala em meses, não semanas”. Mas, desde que o Bernardo começou a se desenvolver, a conta em meses não faz o menor sentido. Tudo acontece baseado em semanas, desde o teste de gravidez, ao exame do beta, até o primeiro ultrassom e tudo mais que diz respeito à gestação.

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Se ainda não faz sentido para você, nobre amigo, pensa comigo. Você já dirigiu um carro automático pela primeira vez depois de uma vida dirigindo carros de câmbio manual. Provavelmente por descuido você teve a brilhante ideia de usar a perna esquerda para frear e quase beijou o para-brisas, tamanha a freada que se seguiu. Naquele dia você descobriu que a perna esquerda, naquela situação, é completamente inútil. Contar a gestação em meses também é inútil. Os números não batem e não faz nenhum sentido. Você não pode comparar uma coisa com a outra.

A gravidez é em semanas e pronto. E você aprende num piscar de olhos.

Aprendi a fazer essa associação em janeiro deste ano. Talvez agora você se pergunte porque diabos eu passei a contar a gravidez em semanas no mês de janeiro, se estamos em setembro e de lá para cá já se passaram 35 semanas? Acontece que o sonho de ter um filho bateu na nossa porta pela primeira vez em janeiro. Descobrimos a primeira gravidez da Bela (a Beatriz, mãe do Bernardo) quase no final de Janeiro, com 5 para 6 semanas de gestação.

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Foi uma loucura. Um turbilhão de emoções. Um ou dois exames de farmácia, um beta e PIMBA. Grávida! Ficamos felizes demais. A Bela estava no sexto mês da bariátrica e, a partir dali qualquer risco de engravidar diminuía muito. Não planejamos, mas aconteceu e ficamos radiantes. Lá na Holanda meu irmão e minha cunhada se preparavam para a chegada do Noah (que nasceu em abril). Meus pais estavam “benlôcos”, já que era o primeiro neto deles. Quando demos a notícia, foi aquela choradeira. Do nada, de uma vez só, viriam dois netos. Priminhos que teriam no máximo cinco meses de diferença de idade. Estava tudo perfeito.

Começamos a saga para achar um obstetra (este é tema para outro texto) e fizemos mais uns dois betas para acompanhar a evolução. Mas o beta não “dobrou a cada dois dias”, como diziam os médicos. Mas estava subindo (pelas nossas contas). Não tínhamos nos dado conta disso, pois estávamos muito animados. Após uma pequena comemoração pelo meu aniversário, no dia 21 de fevereiro, a Bia não passou muito bem e teve um pequeno sangramento. Ficamos nervosos e decidimos ir ao hospital. Fizemos mais um beta e não tinha nenhum sinal de aborto. Como era madrugada, ficamos de fazer uma ultrassonografia dois dias depois.

No outro dia, porém, veio o resultado do beta e ele caiu. No mesmo dia começaram os sangramentos e infelizmente a gestação acabou na 6ª pra 7ª semana. Foi um puta baque. Fiquei muito triste, mas mais preocupado com a minha Bela do que com qualquer outra coisa. Ela sentiu muita cólica, mas o corpo dela tratou de resolver tudo sozinho. Ela foi muito guerreira. Como uma rocha, não se abalou. Conversamos muito e decidimos deixar que a vida e nossos corpos decidirem o próximo passo. Se aquela gestação não vingou, foi porque o corpo dela achou melhor. A vida achou melhor. Não tínhamos que espernear.

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No primeiro ciclo menstrual depois… PIMBA. Quase não acreditamos. Ficamos meio atordoados. A dor da primeira perda ainda era nossa companheira, mas o sonho de formar uma família também. Exames de farmácia confirmaram o que o beta sacramentou: grávida de 3 pra 4 semanas. Descobrimos mais cedo do que a primeira. E foi cedo também que esta gestação deixou de evoluir. Mais uma vez a vida quis assim.

Nós, homens, jamais sentiremos essa dor na mesma intensidade que nossas companheiras. Eu cultivava diariamente o sonho de ser pai. Sonho sonhado por 40 anos. Ela vivia a missão de ser mãe 24 horas por dia. Compartilhava tudo com o feto e sentia tudo com mil vezes mais força. Pensei que a minha Bela ia “cair”, mas mais uma vez minha mulher demonstrou uma força incrível. Uma resiliência de dar inveja. Segurou a barra, ajudou a me consolar mais uma vez e pôs tudo nas mãos do destino.

Estávamos prontos para seguir com a nossa vidinha quando no primeiro ciclo após o segundo aborto… PIMBA. Não era possível… três seguidas? Me senti um garanhão. Brincadeira à parte, dessa vez foi tudo mais tenso ainda, mais apreensivo. Não contamos para ninguém nas primeiras semanas, apesar de termos a certeza de que a energia que recebemos de todos que souberam das outras duas gestações foi fundamental para termos lidado com as duas perdas. Cabe aqui um muito obrigado para nossos parentes e amigos mais próximos.

Fizemos os testes de farmácia, o primeiro beta e voamos para a nossa obstetra, que recomendou fazermos o ultrassom para dali 7 dias, que pelas contas já daria para ouvir o coraçãozinho (emoção que não chegamos a sentir das duas outras vezes). Não aguentamos. Estávamos muito ansiosos. Fizemos outro beta (estava evoluindo super bem e no ritmo esperado) e fizemos o exame uns 4 dias antes do recomendado.

Saco gestacional e vesícula vitelínica (é o que vai nutrir o bebê nas primeiras semanas) devidamente identificados, mas ainda sem batimento cardíaco. Pagamos “caro” pela nossa ansiedade e demos um belo de um tiro no pé, pois tivemos que esperar de qualquer jeito (para cumprir o prazo pedido pela médica) e tivemos que lidar com uma ansiedade ainda pior por não termos ouvido o coração do nosso BeBêr.

Sobre finalmente ouvir o coraçãozinho do pequeno, falamos no nosso próximo encontro.

Eu sou Eduardo Luiz Klisiewicz, marido da Beatriz e pai do Bernardo.

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