Há muito não se vê uma política tão cheia de adversários. A governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius (PSDB), é alvo de uma forte campanha para desestabilizar seu governo. Não à toa, pois as denúncias de corrupção abundam, transformando uma das personagens mais interessantes da eleição de 2006 em uma refém das próprias atitudes. A semana chegou a ser positiva para ela, mas muita coisa deve acontecer até o final do ano.

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O Estado publicou ontem matéria da Agência Estado que tratava de um dos processos que atinge a governadora: “A 4.ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4.ª Região excluiu a governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius, de ação por improbidade administrativa movida pelo Ministério Público Federal. Osório disse que a decisão considerou que a competência não pertence à Justiça Federal para apreciar ação de improbidade. Conforme o advogado, estaria consolidada jurisprudência nesse sentido no Supremo Tribunal Federal (STF). (…) A ação do MPF decorreu de investigações da Operação Rodin, que resultou na denúncia, em maio do ano passado, de 44 pessoas por envolvimento em esquema de desvio de recursos do Detran, com perdas estimadas em R$ 44 milhões. Além disso, os procuradores também examinaram dados de outras três investigações que continham interceptações telefônicas, incluindo a Operação Solidária, que apurou irregularidades em contratos de merenda escolar e obras públicas”.

Yeda venceu essa, e centralizou toda a sua defesa a partir da decisão para a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que transcorre na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. Lá, ela só tem o PSDB a lhe sustentar. Os outros partidos que a apoiam mantém discreto distanciamento, e a oposição está em intensa gritaria – liderada pelo PT, que vê no desgaste de Yeda Crusius um caminho mais facilitado para a chegada do ministro da Justiça, Tarso Genro, ao Palácio Piratini na eleição do ano que vem.

No PMDB, aliado de segunda hora durante a eleição (apoiou a tucana no segundo turno), mas que se afastou aos poucos depois das denúncias, o momento é de cautela. Dois políticos disputam a indicação para disputar a eleição para governador – de um lado, o prefeito de Porto Alegre, José Fogaça; do outro, o ex-governador Germano Rigotto. Dois nomes fortes, que se apoiam em uma posição de centro e em uma possível composição com o PSDB, seguindo com José Serra na eleição presidencial. Daí a cautela dos peemedebistas.

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Mas o pior adversário não é do PT, nem dos radicais do PSOL, muito menos da turma branda do PMDB. O “calcanhar de Aquiles” de Yeda se chama Paulo Afonso Feijó, é do Democratas e, simplesmente, é o vice-governador do Rio Grande do Sul. Partem dele as principais denúncias contra a governadora, que rompeu com o ex-aliado após rusgas de bastidores. Amparado pelos oposicionistas, Feijó irá à CPI nos próximos dias e promete “contar o que sabe e apresentar os documentos que tem no foro adequado”. Yeda se transtorna tanto com as ações do vice-governador que chegou a afirmar que havia tentativas de destituí-la do cargo, chegando a desistir de uma viagem aos Estados Unidos.

A governadora gaúcha sabe que tudo isso só acontece porque há indícios brutais de corrupção em seu governo. Ela, que chegou com a bandeira do pragmatismo administrativo (o que fez como ministra do presidente Fernando Henrique Cardoso), virou protagonista de uma série de escândalos, que chegou a gerar suspeitas sobre a construção da própria casa. E Yeda Crusius nada fez para conter as denúncias ou para averiguar responsabilidades. Está na berlinda, e coloca seu partido na complicada situação de acusador do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, e acusado no Rio Grande do Sul.

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