Vidas perdidas

A Grande Curitiba não é mais a mesma. E mudou para pior. Longe de ser a capital com estilo próprio, de tantas tradições, pacata e pouco receptiva com os forasteiros de outros tempos, a cidade e seu entorno foram contaminados pelo vírus das metrópoles. O vírus da violência. Hoje, não se tem mais sossego. As pessoas devem se manter atentas a todo o instante. Um deslize e o criminoso estará pronto para agir. O melhor a fazer é buscar a segurança dos condomínios para morar e os limites de um shopping center para se divertir. Quem deveria estar aprisionado não está e os cidadãos de bem vivem a vida tensos e presos num mundo particular sem muitas opções.

O índice de mortes violentas assusta e estarrece. Foram 1.850 pessoas assassinadas na Grande Curitiba no ano passado. Só na capital, 860 pessoas perderam a vida nas mãos de bandidos. Na Região Metropolitana, a cidade mais violenta foi São José dos Pinhais, com 189 mortes, seguida de Colombo, com 143, e Pinhais e Piraquara, cada uma com 123. O mapa do crime revela grande disparidade entre os bairros. Enquanto dez localidades fecharam o ano sem registrar nenhum assassinato, os cinco mais violentos – Cidade Industrial de Curitiba (CIC), Cajuru, Sítio Cercado, Tatuquara e Boqueirão – ficaram com a triste marca de 382 mortes, 44% do total. De posse de tais informações, o poder público deve intervir e se fazer presente para evitar que mais sangue seja derramado.

Não é possível que essa barbárie continue sem ao menos uma tentativa de pacificação do Estado. As forças de segurança têm que atuar com tolerância zero no enfrentamento da bandidagem. A sociedade clama pelo fim da violência.

Além de conhecer os lugares com maior índice de criminalidade, outro ponto que faz a diferença na busca pela paz urbana diz respeito à venda e ao consumo de entorpecentes. Já se tem conhecimento que a ampla maioria das mortes está relacionada com as drogas. E o crack é a mais devastadora delas. Pois que se declare guerra ao tráfico e aos narcotraficantes. A prisão desses facínoras e o combate à atividade ilegal que eles exercem irão contribuir sobremaneira para a queda nos números da violência.

O bom exemplo ocorreu no Rio de Janeiro e deve ser seguido por outras cidades, inclusive pela capital paranaense e pelos municípios que a rodeiam. Ao invadirem, prenderem e expulsarem narcotraficantes do complexo de favelas do Morro do Alemão, policiais e militares transformaram a vida dos moradores do local. É prova que a presença de agentes do poder público e o combate à criminalidade não podem jamais ser negligenciados. Não se pode atender os bolsões de pobreza espalhados pelo Brasil somente com dinheiro provindo de programas assistencialistas. O Estado tem que usar sua mão forte para dar segurança.

Outro dado que chama a atenção é o grande número de jovens entre 16 e 25 anos vítimas de assassinato. Foram 814 pessoas nessa faixa etária que morreram de forma violenta em 2010. Triste constatação que prova a falta de perspectiva dessa gente. O convívio com o tráfico, venda e consumo de drogas, acompanhado pela falta de saneamento básico, o baixo nível de escolaridade e o desemprego empurram os jovens para o crime. O resultado final dessa combinação fatídica todos sabem: cadeia ou cemitério.

Em meio a tanta desgraça, aparece algo alentador. Apesar da média de cinco assassinatos por dia na Grande Curitiba em 2010, o ano passado foi menos violento que 2009, com uma diminuição de 15% no número de mortes. Cabe agora ao governo que acaba de assumir reduzir ainda mais os índices da violência. Bom trabalho e boa sorte ao governador Beto Richa (PMDB) e ao secretário da Segurança Pública Reinaldo de Almeida César.

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