Venha a mim, e ponto final

Os dias de tensão e crise deixaram uma grande lição de civilidade. Ou falta dela. É em momentos como os proporcionados pela paralisação dos caminhoneiros que o ser humano mostra um pouco mais da sua essência. Pensar apenas no próprio umbigo é estratégia que aflora com o medo. O brasileiro é campeão nisso.

Houve pessoas comprando dez pacotes de arroz, por mais que o consumo real fosse de apenas um por semana. Fardo de macarrão, mesmo que o cardápio dos dias seguintes tivesse previsto duas macarronadas. Caixas de leite lotando o bagageiro do carro, suficientes pra três meses de consumo.

Não foram poucos registros semelhantes feitos por equipes de reportagem, Brasil afora. A resposta, sempre a mesma: “Melhor garantir, né?” Mas e se o seu vizinho ficar sem? “Ele que dê o jeito dele!”

Não é assim que as coisas devem funcionar. Pensar no próximo é manter a esperança de que alguém também estará pensando em você quando necessário. Não dá pra viver numa sociedade em que apenas você e os que vivem sob o mesmo teto estejam bem.

Precisamos de união pra lutar por conquistas maiores. Justas, sem demagogias. Com poder de elevar o padrão de vida de comunidades inteiras. E isso passa por uma severa mudança de atitude cidadã.

Individualismo bobo

De que adianta uma categoria, qualquer que seja, parar o país até que se atenda determinada pauta de reivindicações? Semana passada foram os caminhoneiros. Tiveram 100% do que pediram resolvido. Depois foram os petroleiros. Queriam a demissão do presidente da Petrobras, Pedro Parente. Que se demitiu, antes mesmo que o governo pensasse em atender os trabalhadores revoltados. E isso pegou muito mal.

A crise brasileira é institucional, cultural e moral. Impossível admitir, nos tempos atuais, que se imagine resolver questões de mercado com pressão popular. Algo como o famoso “ou baixa ou acaba”, do irresponsável Roberto Requião em relação aos pedágios.

Quantos do que bloquearam estradas recentemente vão votar certo em outubro? Quantos vão escolher candidatos mediante promessas e benesses para os seus? É isso que precisa mudar. E tudo passa pelas urnas. A eleição é o momento pra se protestar. E isso se faz escolhendo direito.

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