Velhos nomes e vícios

A renovação da Assembleia Legislativa do Paraná, na legislatura que começa na próxima terça-feira, não foi tão grande quanto se esperava, após recentes escândalos. Muitos dinossauros estarão de volta nos corredores e plenário da Casa de Leis. Há sim alguns novos nomes, muitos deles com velhos sobrenomes. Entre filhos, netos, irmãos e esposas de ex-deputados, são dez herdeiros políticos. Mas o que tem que mudar são os hábitos e a postura. Mas se depender do que ocorreu durante a “pré-temporada” dos deputados, alguns antigos vícios devem permanecer.

A composição da Mesa Diretora é um exemplo. O governador Beto Richa (PSDB) foi eleito pregando a independência dos poderes, mas, em duas nomeações, foi a solução do impasse que se travava na Assembleia antes mesmo do fim da legislatura anterior. Com a indicação de Durval Amaral (DEM) para a Casa Civil e Luiz Cláudio Romanelli (PMDB) para a Secretaria do Trabalho, tirou dois obstáculos para que o presidente de seu partido, Valdir Rossoni, fosse alçado à presidência da Casa. De quebra, conquistou o apoio do PMDB, partido que esteve do outro lado na campanha eleitoral. Com sua oposição reduzida à bancada do PT, com sete deputados, fica difícil imaginar que o governador não vai exercer influência sobre a Assembleia.

Mas, depois de a situação praticamente resolvida com o DEM e o PMDB, surgiu o fogo amigo. De dentro do próprio PSDB, alimentou-se uma candidatura improvável, que nunca foi oficializada, mas que ganhou adeptos dentro e, principalmente, fora do Legislativo. O nome de Nelson Garcia (PSDB), famoso tucano do bico vermelho, ex-secretário do governo Requião, aparecia como obstáculo à candidatura de Rossoni e à costura feita por Beto Richa.

Garcia virou o trunfo dos descontentes. Deputados ou grupos políticos insatisfeitos por não terem sido lembrados para o secretariado de Beto Richa ou para a composição da Mesa de Rossoni, ou que não tiveram nem suas indicações para o segundo ou terceiro escalão atendidas, viram na candidatura de Garcia a possibilidade de pressionar Beto e Rossoni. Apesar do movimento, em nenhum momento um deputado sequer veio a público anunciar apoio à nova candidatura. Foram três semanas de uma candidatura nunca oficializada, mas muito alimentada, que acabou, sem nunca ter existido, na última quinta-feira, com uma nota oficial emitida por Nelson Garcia, em que declara abrir mão da candidatura “pela unidade partidária”.

No ninho tucano, a candidatura de Garcia nunca foi levada a sério, interpretada sempre como um blefe, uma forma dos descontentes chantagearem o governo e o partido a fazer concessões, seja nas nomeações no Executivo, seja na “linha dura” com que Rossoni prometeu comandar a Assembleia. Até o polêmico projeto de aposentadoria especial para ex-deputados foi colocado na mesa de negociação, levantado por alguns como condição para a manutenção do apoio a Rossoni.

A candidatura de Garcia foi retirada. Terça-feira, Rossoni será aclamado presidente da Assembleia com mais de 45 votos (apenas a bancada do PT deverá se abster). Resta saber a que preço. A quais pressões o novo presidente da Assembleia teve que ceder. A torcida é para que tudo não tenha passado mesmo de um blefe malsucedido e que a candidatura fantasma de Garcia não tenha alcançado o objetivo desejado.