É impossível não incluir o nome de Roberto Requião entre os políticos mais importantes da história do Paraná. Ele conseguiu a proeza de vencer três eleições para o governo do Estado. Na retomada democrática, ninguém foi tão bem-sucedido no voto quanto ele. Seu posicionamento peculiar também o coloca em posição especial dentro do panorama da política paranaense. Mas, mesmo com toda a relevância que merece, o atual governador do Estado só faz manchar a sua trajetória nos últimos tempos.

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São quase sete anos no poder desde a eleição vitoriosa de 2002. Neste período, Requião obteve vitórias importantes e derrotas implacáveis. Seu primeiro (e mais antigo) duelo, com as concessionárias de rodovias, não terminou – mas nada leva a crer que ele vai ganhar. Se fosse um jogo de futebol, as concessionárias estariam vencendo por oito a zero aos 40 minutos do segundo tempo.

Agora, o governador do Paraná atingiu o ponto mais baixo de sua biografia. Como representante da esquerda, e defensor das minorias, Requião nunca poderia fazer o que fez – e o que ele fez foi relatado pelo repórter Roger Pereira na edição de ontem de O Estado: “Discussão com o diretor-geral da Secretaria da Fazenda, Nestor Bueno, brincadeira de mau gosto com os homossexuais, afago na prefeitura de Curitiba e, até comoção que quase virou lágrimas. O governador Roberto Requião (PMDB) voltou a dar “show’ na Escola de Governo, reunião semanal de seu secretariado, de ontem (terça-feira), no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba. (…) E a brincadeira sem graça foi, mais uma vez, com o secretário da Saúde, Gilberto Martin, chamado para falar sobre a campanha de prevenção do câncer de mama. O secretário teve que ouvir a opinião do governador sobre a incidência da doença em homens. “(…) Embora câncer de mama seja hoje em dia uma doença masculina também. Deve ser consequência dessas passeatas gays’, disse Requião, que há algumas semanas havia ironizado a campanha de prevenção do câncer de próstata, fazendo piada com o exame de toque e sendo repreendido por Martin. A Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais emitiu nota lamentando a declaração: As piadas com relação à nossa comunidade infelizmente reforçam o preconceito, a discriminação e a violência que sofremos”.

A repercussão foi, é claro, a pior possível. O Paraná foi exposto novamente à execração pública, com a apresentação da infeliz declaração do governador dentro do Jornal Nacional, da Rede Globo, o programa de televisão de maior audiência em todo o País. A rapidez na transmissão de informações fez com que o desatino de Requião virasse assunto em todos os cantos, e sempre com alguma manifestação que transformava o Estado em um quintal de um cidadão, no mínimo, sem noção do ridículo.

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Enquanto os representantes dos gays reclamavam com toda razão, e os meios de comunicação difundiam a triste notícia, o governo do Paraná se fechou em copas. Surpreendente reação de quem adora usar a Agência Estadual de Notícias para reclamar da imprensa em qualquer situação. Apenas o deputado estadual Luiz Cláudio Romanelli, líder do governo na Assembleia Legislativa, colocou a cara para bater, no que demonstrou coragem para defender o indefensável.

Pena que o governador do Paraná, um dos políticos mais importantes do País (tanto que se julga competente para ser candidato à presidência da República), coloque o nome de todos nós, paranaenses, na lama. Tudo que nosso povo construiu em anos de história fica esquecido ante os tristes atos de um mandatário que se julga superior aos seus iguais, e que conta com uma patuleia que o aplaude mesmo em situações estapafúrdias – como ao comer sementes de mamona diante do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ou ao demonstrar um profundo preconceito contra os homossexuais em plena reunião de governo.

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