Uma nova etapa

Um dos elementos notáveis da revolução em curso no Egito, seja qual for seu desfecho, é o papel das novas tecnologias de comunicação, como a internet, no episódio. Antes, quem detinha o monopólio da informação era o poder constituído, eram os poderosos. Com o advento da internet a situação se inverteu e todo mundo passou a ter o poder de se comunicar em quaisquer situações. Todas as ferramentas da tecnologia moderna são usadas pelos manifestantes contra a tirania de Hosni Mubarak. Parodiando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nunca houve nada parecido na história deste planeta.

A grande verdade é que estamos ainda no meio de uma revolução tecnológica sem precedentes. Se a invenção da imprensa por Gutenberg em 1439 foi fundamental para tirar a humanidade da Idade das Trevas, também conhecida por Idade Média, no primeiro grande acontecimento da Idade Moderna, ainda não temos condições de determinar a real importância da internet no futuro da humanidade. Tudo acontece rápido. Eventos como os que estão em curso no Egito, demonstram que estamos entrando em novo grande período, em que o controle da maioria pelas minorias autoritárias já não é tão fácil – para não dizer, impraticável. Isto, numa primeira avaliação, parece um avanço.

Hoje, com o computador pessoal e todas as ferramentas que ele abriga, qualquer pessoa tem a seu dispor algo que há cinquenta anos era impensável. Uma possibilidade de comunicação surpreendente, com o planeta inteiro e que não para de crescer ano a ano. Ainda não sabemos onde vai parar. Mas não para de crescer através de novidades que pipocam. O surrado e-mail nocauteou uma das instituições mais caras da humanidade, as comunicações por carta através dos Correios, eficientes embora demorassem dias, semanas e até meses para cumprir sua finalidade. As comunidades sociais, como Facebook e Orkut, desafiam os ortodoxos. Novos métodos de acesso a informação como os iPad e iPod (e sabe Deus o que vem pela frente!) estabelecem um verdadeiro frenesi.

Houve um tempo em que o papel vindo da China foi fundamental para a evolução da humanidade. O papel durante muito tempo foi senhor dos acordos, depositário das responsabilidades, difusor da cultura, confidente dos grandes amores. Mas o papel sofreu o primeiro golpe desferido pelo italiano Guglielmo Marconi, no final do século 19, com as ondas de rádio. O rádio era questão de tempo e foi um furor nos primeiros anos do século 20. O papel ainda resistiu. Depois veio um golpe ainda mais duro, a partir da segunda metade do mesmo século: a televisão foi um choque. A cada nova invenção, um contingente cada vez maior de pessoas era agregado à comunicação de massas.

O rádio, como a televisão, não acabou com a importância do papel. Mas foi dividindo com ele uma espécie de poder. Até o surgimento da internet e todas as suas ferramentas encurtarem distâncias, reduzirem custos, potencializarem o território a ser atingido e assim, sem tripudiar com a história, impor o seu domínio. A verdade cruel é que hoje o homem pode se informar em casa se tiver um computador e acesso a endereços que produzem conteúdo. É a marcha inexorável da história. Hoje é a última edição de O Estado do Paraná no velho formato do papel. Uma história que continua no formato digital. O jornal continua o mesmo. Mudou a ferramenta. Para uma que todos, cada vez mais, usam. Até para fazer novas revoluções. Esperamos continuar sempre com os nossos fiéis leitores, que poderão nos acessar de qualquer canto do planeta. Vamos em frente.

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