Ninguém é obrigado a amar ou a odiar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas, no Brasil, ou você ama ou odeia o presidente da República. Hoje, mídia e políticos vivem uma espécie de dicotomia quando se fala em Lula: de um lado, surgem críticas de todas as partes e alfinetadas sempre que for possível; de outro, a luta pela quase “santificação” do presidente, assegurando que ele nada faz de errado.

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Impressiona quando se ouvem os dois lados desta história. Há blogueiros, jornalistas e políticos especializados em desancar ou defender Lula. Os críticos não perdem a chance para defini-lo como “ignorante”, “atrasado” e “mal-educado”. Os defensores atacam toda e qualquer pessoa que comete a heresia de falar mal do presidente, chamando-os de “golpistas”, “direitistas”, “serristas” e “canalhas”.

O final da semana passada levou esta disputa retórica ao extremo. A publicação de um artigo do editor César Queiroz Benjamim no jornal Folha de S. Paulo gerou uma guerra de declarações em torno de uma acusação bizarra.

Cabe um parêntese para explicar quem é César Queiroz Benjamim. Ele foi militante político nos anos 60s, quando ainda era secundarista. Sua história está contada em 1968 – O ano que não terminou, livro de Zuenir Ventura, retrato definitivo da época. Foi preso, exilado, voltou com a anistia e ajudou a fundar o Partido dos Trabalhadores (PT). Ficou lá até 1995, quando abandonou o partido. Ressurgiu em 2006 como candidato à vice-presidência do PSOL, fazendo parceria com Heloisa Helena. Nos últimos tempos, é figura fácil na TV Paraná Educativa, por conta de sua proximidade com o governador Roberto Requião (PMDB). Descobriu-se, inclusive, que ele tem cargo comissionado e está na estrutura administrativa do Estado como “presidente da TV Educativa”. Fecha parêntese.

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Bem, César Benjamim fez uma análise do lançamento cinematográfico Lula, o filho do Brasil, lançado há duas semanas, sem falar um momento sequer do filme. Contou sua vida e relatou uma pretensa conversa que teve em 1994 com o publicitário Paulo de Tarso Santos, o cineasta Sílvio Tendler e um publicitário norte-americano – além do próprio presidente, então candidato do PT à presidência.

Na conversa, segundo o editor, Lula teria contado uma tentativa de violência sexual de um jovem militante estudantil que dividia cela com ele no início de 1980, quando foi preso por liderar as greves no ABC paulista. Lula era o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo.

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Foi um texto tão aloprado que nem mesmo os mais renhidos críticos do presidente entraram na onda – com a exceção do blogueiro Reinaldo Azevedo. De outro lado, veio uma enxurrada de ataques à Benjamim, à Folha de S. Paulo e à imprensa “de direita”, como definem principalmente os jornalistas Paulo Henrique Amorim e Luís Nassif – curiosamente, ex-funcionários da “imprensa de direita”, um na Rede Globo, outro na própria Folha. Ao mesmo tempo, os canais de mídia social da internet foram inundados por e-mails, mensagens e recados que tratavam do assunto – a favor ou contra, quase sempre com grosseria para quem se identificava como sendo “do outro lado”. Lula, que ficou constrangido e chaetado com a situação, nem precisou se manifestar no meio de tanta bandalheira.

Como se Lula precisasse de uma coisa ou de outra. O presidente tem luz própria, independe dos partidos e tem extrema popularidade, advinda de seu carisma e do sucesso de seu governo. Mas ele não é santo e nem perfeito. Cometeu erros, abrigou os artífices do mensalão e chutou para baixo do tapete da história a ética que ele e o PT tanto defenderam (abandonada em casos como a defesa exagerada do presidente do Senado, José Sarney). Cabe a todos nós colocarmos acertos e defeitos na balança e decidirmos qual a nossa opinião sobre o presidente da República. E não a dos blogueiros, jornalistas e políticos de um lado ou de outro.