Um caminho longo

Na semana que passou, foi divulgada uma pesquisa interessantíssima realizada por entidades civis. O nome diz tudo: “Relatório Preliminar Ranking dos Estados no Controle de Armas: Análise Preliminar Quantitativa e Qualitativa dos Dados sobre Armas de Fogo Apreendidas no Brasil”. É uma avaliação profunda, e inédita, sobre as apreensões de armas de fogo em todo o País. Em um período em que nos assustamos com a ousadia dos marginais, que chegam ao exagero de derrubar um helicóptero da polícia no Rio de Janeiro, ou de simplesmente criar um “toque de recolher” na periferia de Curitiba, temos um documento poderoso para conhecer a real situação da segurança pública no Brasil.

De posse dos dados, a repórter Joyce Carvalho olhou para a nossa aldeia, em matéria publicada na edição de domingo de O Estado: “O relatório contou com dados fornecidos pelas secretarias estaduais da Segurança Pública e tribunais de justiça para a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Tráfico de Armas. “Embora o controle de armas não resolva por si só a questão da insegurança, está provado que ele atua de forma fundamental no principal vetor que gera a violência: a arma de fogo’, indica a conclusão do relatório preliminar. O Estatuto do Desarmamento centralizou o cadastro e o registro de armas de fogo possuídas legalmente, através do Serviço Nacional de Armas (Senarm), da Polícia Federal (para pessoas físicas e jurídicas civis), e do Sistema de Gerenciamento Militar de Armas do Exército Brasileiro (para armas de caçadores, atiradores e colecionadores; armas de uso restrito; e armas privadas de instituições militares). No entanto, a gestão dos dados sobre armas apreendidas nos estados continua sendo dever de cada Unidade da Federação, que precisa repassar as informações regularmente. Segundo a Polícia Federal, a Polícia Civil do Paraná cumpre com esta determinação. O coordenador do projeto, Antônio Rangel Bandeira, conta que o Paraná ficou em 10.º lugar no ranking porque saiu-se muito bem na campanha de entrega voluntária de armas”.

Em um período de péssimas notícias para a população, que sofre com a insegurança, temos um fato a ser comemorado. Os responsáveis pelo projeto afirmam que o Paraná foi um dos estados que tomou a iniciativa de criar uma campanha de entrega de armas. E, convenhamos, esta é uma vitória, que inclusive transcende a própria ação dos órgãos de segurança e chega à sociedade civil, que atuou ao lado do governo.

E é justamente assim que se vence este problema. É necessária a ação conjunta entre poder público e sociedade para que se aumente a entrega voluntária de armas. É no contato entre as famílias e as autoridades, é na confiança mútua, é na compreensão de que pouco adianta ter uma arma de fogo, pois ela não ajuda em nada na hora de se defender da marginalidade – pelo contrário, geralmente ela acaba apressando as tragédias, e transformando cidadãos comuns em atiradores a esmo.

Ao mesmo tempo, é imperioso o aparelhamento das polícias, modernizando o equipamento dos profissionais e treinando-os para cada vez mais saber lidar com as adversidades. E, claro, precisa-se reforçar a segurança pública, contratando mais e mais policiais e criando um clima favorável ao aumento da entrega voluntária de armas. Pois, por mais que usemos espaços como este para pedir encarecidamente que quem tem um revólver entregue à Polícia Civil, há quem não consiga fazer isso porque simplesmente não confia no poder público, ou porque sente que a insegurança continua rondando a sociedade. Temos um caminho longo a seguir e a confiança é fundamental. E este é um item em falta no convívio entre as autoridades de segurança e a população paranaense.