Marielle Franco virou mártir. Sofreu em vida com inúmeras desigualdades. As sentiu na pele. Lutou contra elas. E morreu por causa delas. A polícia carioca faz onda, dizendo que está investigando se foi assalto ou execução. Foi! Sumária! A vereadora incomodou demais, bradando aos quatro cantos contra as desigualdades sociais. E foi calada a bala.
O Rio de Janeiro sangra e simboliza a situação vergonhosa que faz do Brasil um picadeiro. Pois não se trata apenas de segurança pública, ou falta dela. Falamos de uma cultura rasteira, corrupta, do jeitinho. Aquele mesmo que, vez ou outra, alguns exaltam com orgulho, mas que na verdade demonstra a capacidade do brasileiro de driblar regras e convenções, independentemente de quais sejam.
Quando esse tipo de comportamento ocorre embalado por interesses escusos, ou acobertado pelo mal, as tragédias sociais se avolumam. Marielle se configura num grande troféu de catástrofe pública e coletiva.
Isso num estado sob intervenção federal, com interventor e secretário da segurança militares de alta patente. E muitos milhões aplicados, muito mais mirando resultados políticos.
Lágrimas
Atualmente não é apenas o “Estado da Guanabara” que chora. Em várias cidades do país foram registrados protestos. Como aceitar que a munição utilizada no atentado, que matou também o motorista da parlamentar, pertença a um lote comprado pela Policia Federal? Isso mesmo! Cápsulas de 9mm comercializadas pela empresa CBC com a PF de Brasília, em 2006. Faziam parte do lote UZZ-18, que já havia sido usado na maior chacina de São Paulo, em agosto de 2015, na qual 23 pessoas foram mortas.
A sociedade brasileira precisa limpar as lágrimas e erguer a cabeça. Necessitamos de pessoas sérias no poder. Mas lembre-se que você ajuda na escolha, a cada eleição.
Agora, é imperioso rever o nível da nossa cultura de pegar atalhos e aceitar que tudo tem um jeito desviado de ser resolvido. Não é assim. As milícias surgiram justamente aplicando essa cultura, ocupando o lugar de um estado falido. Justamente milicianos, principais suspeitos de apertarem o gatilho da pistola que matou Marielle. Que jeitinho.