Quem tem trinta anos ou mais lembra de algumas empresas emblemáticas do Paraná. Nas casas, muitos paranaenses tinham móveis Cimo. No Alto da Rua XV, em Curitiba, estava a fábrica de pianos Essenfelder. Quem não consumia os produtos Batavo? O banco mais popular do Estado era o Bamerindus. Nos dias que antecediam o Natal, as lojas Tarobá, Muricy, Prosdócimo e Garcez ficavam lotadas. Sem contar a Hermes Macedo, que tinha lojas “do Rio Grande ao Grande Rio” e que era uma das grandes lojas de departamentos do País.
Há outras empresas que poderiam ser citadas com este tom nostálgico. Principalmente nos últimos anos, com a transformação da economia paranaense e na consolidação da chamada globalização. Este foi o assunto de capa da edição de domingo de O Estado, em matéria da repórter Magaléa Mazziotti: “Aqui se vende tradição. Pelo menos é isso que se conclui em um breve retrospecto das transações ocorridas nos últimos 15 anos no Estado. Focando apenas nas empresas que por muito tempo representaram e projetaram a produção paranaense no Brasil e no exterior, mais de 30 já mudaram de mãos, principalmente por meio de processos de fusões e aquisições. Tais transações tomaram conta do mundo dos negócios e, a cada ano, ganham mais adeptos no Brasil, a ponto das consultorias especializadas nisso apresentarem faturamentos bilionários. O arremate mais recente de empresas paranaenses ocorreu na semana passada, quando se confirmou que a Café Damasco foi adquirida pela empresa norte-americana Sara Lee Corp e a Viação Garcia passou para o empresário paulista Mário Luft”.
É uma realidade difícil de ser administrada. Primeiro, porque há um forte componente emocional quando se trata de determinadas empresas. Há alguns anos, quando o Bamerindus foi vendido para o HSBC, foi como se um pedaço do Paraná estivesse indo embora – a rigor, não foi, mas era a sensação dos paranaenses (reforçada quando o Banestado foi privatizado).
O segundo ponto é o inevitável. Hoje, ser uma empresa local exige um nicho de mercado específico, uma clientela fiel e capacidade de investimento constante. Entrar em uma disputa renhida, como por exemplo no setor de bebidas, é quase impossível para quem trabalha em escala menor. As opções para quem está neste caminho são a popularização extrema (com as chamadas “tubaínas”) ou a elitização (como as cervejas especiais produzidas em todo o País).
Este é apenas um exemplo. Outros setores da economia estão totalmente globalizados. Empresas muito poderosas controlam mais da metade de setores fundamentais. Quando não há uma liderança absoluta, são dois ou três grupos com esta força, que simplesmente aniquilam os rivais, fazendo aquisições constantes. No Brasil temos empresas que têm presença ostensiva na economia mundial, notadamente a AmBev (bebidas) e a JBS/Friboi (carnes). Consolidados aqui, perceberam que o mundo era a melhor saída, e partiram para uma agressiva estratégia de compras de marcas internacionais.
E grupos como os citados acima agem diretamente nas empresas locais, comprando, mudando o estilo de gestão e buscando resultados imediatos. É assim na economia globalizada. O que para nós é história e tradição, para “eles” é a possibilidade de um negócio a médio prazo. Assim segue o mundo. E o Paraná vê suas marcas mais importantes saindo de cena em nome de uma realidade que não poderá ser alterada tão cedo.