O PMDB realizou, com pompa e circunstância, um encontro nacional em Curitiba. Reuniu nomes importantes do partido em um hotel cinco estrelas, falou alto e boa parte da cúpula da sigla assinou uma moção de apoio a uma candidatura própria – quer dizer, a ida às urnas com as próprias pernas, e não apoiando a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), ou o governador de São Paulo, José Serra (PSDB).

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Anfitrião do encontro, o governador Roberto Requião saiu forte, pintando como um possível nome peemedebista para concorrer à presidência. Na edição de domingo de O Estado, a repórter Elizabete Castro explicou essa história: “A moção de apoio à candidatura própria à sucessão de 2010 e a apresentação do nome do governador do Paraná teve o aval de representantes e deputados de 15 diretórios regionais do PMDB, do governador de Santa Catarina, Luís Henrique da Silveira, dos senadores Pedro Simon (RS) e Neuto de Couto (SC) e do presidente do PMDB de São Paulo, ex-governador Orestes Quércia. A defesa da pré-candidatura de Requião foi feita pelo senador Pedro Simon, que cobrou do governador do Paraná uma resposta imediata. “Nós temos que tomar uma decisão. A partir de amanhã, podemos começar a percorrer o Brasil inteiro como pré-candidato. É só o Requião marcar a data que nós estamos nessa caminhada’, afirmou. (…) Requião não se fez de rogado. Ao encerrar o encontro, disse que era necessário mandar o seguinte aviso à cúpula nacional do PMDB. “Aqui se consolida uma pré-candidatura’, afirmou o governador do Paraná. Aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas três últimas eleições presidenciais, Requião disse que se o partido tem a oportunidade de participar da disputa, não pode abrir mão. “Sou amigo do Lula. Sou amigo pessoal da Dilma. Sou companheiro de militância e de juventude do Serra. Mas, antes de tudo, sou peemedebista e brasileiro’, afirmou”.

Apesar de toda a gritaria, e do apoio importante do senador Pedro Simon, uma das referências éticas do Congresso Nacional, a intenção de Requião (e de parte do PMDB) está, por enquanto, mais para um sonho impossível que para uma doce realidade. Uma candidatura própria do maior partido do País seria natural caso o PMDB não fosse, no final das contas, uma grande colcha de retalhos, com vários pensamentos conflitantes – não é à toa que a última candidatura foi em 1994, quando o ex-governador paulista Orestes Quércia ficou atrás até de Enéas Carneiro.

Esse “balaio de gatos” é facilmente identificável. Uma parte da legenda está totalmente comprometida com o presidente Lula. Lideram esta turma, o presidente do partido (e da Câmara dos Deputados) Michel Temer, o presidente do Senado José Sarney e o senador Renan Calheiros. Em um lado oposto estão os peemedebistas que querem a união com o PSDB, de preferência com José Serra, como Orestes Quércia e o senador pernambucano Jarbas Vasconcellos. E ainda tem a turma, que reúne nomes como os de Requião e Simon, que defendem a candidatura própria.

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Estes três grupos dificilmente vão se unir até o período das convenções partidárias. A decisão que a cúpula tomar não será aceita, e novamente o PMDB irá rachado para mais uma eleição. Portanto, se Requião conseguir a sua brancaleônica vitória na convenção, não terá sequer meio partido ao seu lado. Será uma trajetória com rumo definido -a derrota.

Para o governador do Paraná, mais importante é ter seu nome discutido nacionalmente, o que pode ajudar na campanha para o Senado Federal em 2010. Esta é uma vitória possível, até provável, pela experiência de doze anos como governador e oito como senador. Agora, pensar em ser presidente “é muito para o caminhão de Requião”.

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