Sobre imprensa, joio e trigo

O jornalismo profissional, como pilar social e fluido essencial da democracia, torna-se ainda mais importante em momentos turbulentos como os que estamos vivendo. O livre e amplo direito de imprensa, expressão e opinião exige dos cidadãos alto nível de compreensão. Inadmissível tolher conteúdos. Obrigatório paciencioso esforço para absorvê-los, separando joio e trigo.

Você já tinha ouvido falar do site The Intercept Brasil? Se não é jornalista ou engajado politicamente, provavelmente não. Até o seletivo vazamento das conversas entre o ex-juiz Sérgio Moro e o procurador federal Deltan Dallagnol, coordenador da Operação Lava Jato, vir à tona.

Seletivo em função de os próprios autores das reportagens publicadas até então deixarem bem claro que há muito mais a contar. Segundo consta, a invasão criminosa resultou numa imensidão de conteúdos privados hackeados.

A partir daí, os editores estão escolhendo fórmula, forma e cadência de publicação. E isso é um direito deles, não há problema. O que incomoda é o tom de ameaça e conspiração. Ficar soltando pílulas das mídias sociais, do tipo: “tem mais”, “vocês não viram nada”, “são muitos megas de arquivos comprometedores”, não é legal.

Sendo verdadeiras todas as trocas de mensagens divulgadas até agora, não só entre os dois personagens principais, mas também envolvendo inúmeros integrantes do Ministério Público e até o ministro do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, condenável apenas partes dos diálogos que têm Moro no centro de palpites e orientações, o não é nada adequado no relacionamento entre um magistrado e as partes de um processo.

No mais, supor que em qualquer ação judicial inexistem momentos de conversa entre demandados, demandantes e juízes, é fechar os olhos para a realidade. É só conferir as agendas nos gabinetes de qualquer vara.

Também essa esperança maluca de anulação em massa de processos e revisão de condenações não deve prosperar. A Lava Jato vai continuar fortalecida. Houve erros ao longo de anos de investigação? Claro. Mas os acertos são muito maiores.

Com moral

De qualquer maneira, o apoio popular, especialmente ao atual ministro de Justiça e Segurança Pública, parece ter aumentado. A onda do “mexeu com Moro, mexeu comigo” está fortalecida. E o presidente Jair Bolsonaro sabe disso. Já declarou apoio e colou nele. Até em jogo de futebol foram juntos.

O grande teste será político. Certamente, tudo o que está ocorrendo será usado pelos sedentos parlamentares em negociações no Congresso. As reformas necessárias estão em risco? Cedo ainda pra bater martelo. Imagina-se que não. Mas que o caldo engrossou um pouco, não há dúvida.

E a imprensa séria deve seguir fazendo o seu trabalho. Com toda a liberdade. Que você também tem pra escolher o que e onde ler. Atento ao joio e ao trigo.

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