Hoje, começa uma nova era nas relações sociais entre fumantes e não-fumantes em Curitiba. Quem explica é a repórter Luciana Cristo: “A partir desta quinta-feira, nada mais da fumaça de cigarro em restaurantes, bares, casas noturnas e outros estabelecimentos fechados de Curitiba. Começa a vigorar na cidade a Lei Antifumo, que proíbe o fumo nesses locais e não cogita sequer a existência de espaços reservados para que os fumantes possam acender um cigarro, sob pena de multa de R$ 1 mil ao estabelecimento, sendo o dobro desse valor em caso de reincidência. Prefeitura e representantes do segmento concordam que de agora em diante estabelecimento nenhum pode alegar que não sabe ou que ficou na dúvida sobre o funcionamento da nova lei. Para tirar as últimas dúvidas dos donos desses estabelecimentos, a Secretaria Municipal da Saúde fez reuniões na última sexta-feira e, num primeiro momento, a situação foi de acordo entre todos”.

continua após a publicidade

A polêmica decisão foi alvo de discussões fortes nos últimos meses. De um lado, os partidários da proibição do cigarro falando em saúde – no risco de câncer para quem fuma e para quem não fuma (os chamados fumantes passivos). De outro, os defensores dos fumantes, pensando nos direitos individuais e, claro, na possibilidade de que um grupo razoável de pessoas abandone os bares e restaurantes.

No final das contas, valeu a questão da saúde. Por mais que se entenda que cada indivíduo tem o direito de fazer o que bem entender (desde que não passe dos limites), e aí está incluído o direito de fumar, não é possível que se permita que as pessoas que não querem fumar nem respirar a fumaça do cigarro sejam submetidas a várias substâncias tóxicas.

Este é o interesse central da lei aprovada pela Câmara Municipal de Curitiba – ninguém deixará de fumar, só não poderá fazer isso em ambientes fechados. Como não foram aprovados os chamados “fumódromos”, quem quiser curtir o seu cigarro terá que deixar o estabelecimento (bares, restaurantes e casas noturnas). A prefeitura de Curitiba se comprometeu a colocar cartazes nos locais onde será proibido o fumo e orientar pessoas que desconheçam a lei para que não haja prejuízo aos estabelecimentos.

continua após a publicidade

É mais um passo na mudança das relações sociais. Até vinte ou trinta anos atrás, o fumante era o “cara da moda”. A publicidade usava e abusava do estilo para valorizar o fumo.

Exemplos: no início da década de 1970, foi lançado o cigarro Charm, e a agência de publicidade elencou algumas das mulheres mais famosas do País (Danuza Leão, Elke Maravilha, Leila Diniz e Clementina de Jesus) para apresentar a nova marca; para a marca Minister, foram criados comerciais românticos de mais de quatro minutos, impensáveis hoje na televisão; e os esportes radicais apareceram na televisão nas cenas que apresentavam o cigarro Hollywood (“O sucesso”).

continua após a publicidade

As pesquisas médicas e a crescente relação entre o fumo e as incidências de câncer de pulmão (e outras doenças) transformaram o símbolo de status em um mal consentido. Aos poucos, o glamour desapareceu, e hoje as carteiras de cigarro não fazem mais a apologia do luxo, mas sim mostram as decorrências do fumo – câncer, doenças cardíacas, impotência sexual e muitos outros problemas de saúde.

A publicidade de cigarros foi proibida, a venda restrita, os impostos aumentados e, agora, quem fuma não pode mais ficar em locais fechados. É um cerco que literalmente se fecha para quem fuma -isto sem falar nas incontáveis campanhas publicitárias que, agora, tentam induzir as pessoas a pararem de fumar.

Até vinte ou trinta anos atrás, fumar era sinônimo de status – quem não fumava estava fora da “onda”. Hoje, a situação está definida: os fumantes são pessoas pressionadas – quase à força – a abandonar o vício.