Servidores, greves e dinheiro público

Parece que voltamos duas ou três décadas no tempo. 2019 começou com uma onda de ameaças de paralisações e algumas greves. O funcionalismo público anda em polvorosa. E esta é a arma disponível. Há algumas pautas plausíveis. Mas, como sempre, a população aparece na condição de refém.

No âmbito nacional, a bronca é política. Sindicatos e partidos de esquerda se opõem ao atual governo, usando a massa de funcionários públicos para contrapor pautas como a reforma da Previdência. Em alguns momentos, é pura birra mesmo contra o time de Bolsonaro. Não dá pra negar que uma sequência de trapalhadas de ministros e aspones diretos serve de combustível.

Mas aqui no nosso quintal o problema é reajuste. O novo governador, Carlos Massa Ratinho Júnior, assumiu com várias categorias de servidores no seu cangote. Algo relativamente comum sempre que há troca de mandatários. Agora, agravado pelos três anos de congelamento salarial provenientes da gestão de Beto Richa.

Arrocho, diga-se, necessário. A crise pegou vários estados pelo pé. Alguns estão devendo, parcelando salários. Mas como, num ambiente de imensa corrupção desnudada, defender tanto tempo sem reposição salarial?

Fato é que os cofres públicos estão vazios. Não há dinheiro pra dar reajuste. Principalmente em função da crise e do tamanho geral das máquinas públicas. Possuímos estruturas muito grandes, caras e, via de regra, ineficientes.

Tomemos como exemplo o judiciário. Aqui no Paraná, de acordo com a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), o Tribunal de Justiça recebe 9,5% do orçamento do estado, que em 2019 é de R$ 57,3 bilhões. Ou seja, uma boa grana.

Se observarmos o contexto nacional, podemos dizer que os brasileiros sustentam um dos sistemas judiciários mais caros do mundo. Mesmo tendo proporcionalmente menos juízes, gastamos 3,5 vezes mais que a Alemanha, por exemplo. A comparação com os Estados Unidos é ainda mais cruel. Nosso poder Judiciário consome 1,35% de todas as riquezas produzidas pelo país. Já os americanos gastam apenas 0,14%. Dez vezes menos!

Infinitas outras comparações poderiam ser feitas, todas nos colocando em flagrante desvantagem. Por isso, fácil entender a revolta de um servidor quando tem uma simples reposição inflacionária negada.

Mas, de novo, fato é que os cofres públicos estão vazios. O que fazer? Necessária responsabilidade de lado a lado. É mais fácil aceitar um arrocho quando se vê esforço do outro lado de resolver outros problemas que também sugam recursos que poderiam beneficiar o povo, ao invés de mordomias de alto escalão.

O momento é propício para esse tipo de mudança de postura, aqui e em Brasília. A pressão popular, não só do funcionalismo público, deve ser nesse sentido.

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