Seria exagero falar que “o Paraná parou”, mas a sociedade estava esperando ansiosamente o encontro entre os deputados estaduais, representantes eleitos da população, com o secretário de Estado da Segurança Pública, Luiz Fernando Delazari, na última terça-feira. Os crimes que abalaram o Estado continuam na boca do povo, a maioria deles sem qualquer resolução. E a insegurança é generalizada, ninguém sai às ruas sem a preocupação de virar vítima de assalto ou mesmo de um assassinato – como ficou evidente na trágica morte do filho do comandante do Corpo de Bombeiros do Paraná.

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Encastelado em seu gabinete, Delazari só dizia que estava tudo bem, e que os deputados que queriam convocá-lo para se explicar na Assembleia Legislativa eram “abutres”. No melhor estilo do seu líder, o governador Roberto Requião, o secretário só aceita as opiniões que “batem” com a dele – quem o critica, apontando os dados reais do crescimento da violência urbana e a falta de aparato policial para conter tal escalada, recebe de volta vitupérios e, às vezes, pressão implícita dos órgãos de segurança.

Um acordo costurado entre situação e oposição conseguiu levar Luiz Fernando Delazari à Assembleia. O que aconteceu foi relatado pela repórter Elizabete Castro na edição de quarta-feira de O Estado: “O secretário disse que o aumento da criminalidade é problema mundial e não exclusividade do Brasil ou do Paraná. De acordo com o secretário, a comercialização e o consumo de drogas e o tráfico de armas se interligam e produzem a elevação dos chamados crimes contra a vida. (…) Apesar de alguns questionamentos duros de deputados de oposição, como o de Valdir Rossoni (PSDB), que sugeriu seu afastamento do cargo e chamou de farsa a operação realizada anteontem que resultou na prisão de 279 pessoas presas acusadas de envolvimento com o tráfico de drogas, Delazari manteve-se impassível e ignorou o que a bancada governista entendeu como “provocação de adversários”.

O resumo da sabatina da terça-feira é simples: faltou competência das duas partes, e faltou “brilho (no sentido de qualidade) no debate. Do lado dos deputados oposicionistas, alguns até foram mais ousados nas perguntas e nas críticas ao secretário da Segurança. Mas não houve encadeamento nos questionamentos – cada um levava a história como agradava, sem maiores preocupações com uma ordem na conversa. Assim, não se avançou durante os debates – pelo contrário, a conversa ia e vinha sem maior nexo.

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Outros deputados, de oposição e de situação, não estavam preocupados em esclarecer situações de interesse público – quer dizer, das pessoas que votaram nos parlamentares que ora nos representam. Preferiram deitar falação sobre os próprios projetos, usando a transmissão direta da sessão de terça como um horário eleitoral antecipado. Ao secretário, pouco cabia fazer senão comentar as declarações dos políticos. E mais tempo se perdeu.

E a turma da situação, obviamente, fez como os grandes levantadores de vôlei – deixavam a bola “certinha” para ser “cortada” por Luiz Fernando Delazari. Intervenções tão perfeitas que pareciam ter sido combinadas por alguns dos áulicos do governador. Nestes momentos, o secretário enchia o peito e falava tudo que gostaria – e nada do que interessava à sociedade, até porque muita coisa que se fala nos gabinetes não se confirma nas ruas.

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Delazari, inclusive, gastou as quase sete horas na Assembleia Legislativa para garantir que não há crise de segurança pública no Paraná, que os investimentos estão sendo feitos e que tudo está às mil maravilhas. No mesmo momento em que o secretário garantia estar tudo bem, assassinatos aconteciam na região metropolitana de Curitiba. Com a visão encoberta, o governo do Estado não consegue enxergar o óbvio.