Em 1969, o Brasil estava sob a espada do Ato Institucional número 5 (AI-5), um mecanismo de endurecimento político que marcou uma geração e deu força plena ao Poder Executivo – sem falar da permissão às violências e às sevícias. Vivíamos num país ainda desunido, com o sistema de telecomunicação precário. Era necessário pedir uma ligação interurbana de manhã para fazê-la à tarde. As emissoras de televisão eram meramente locais, não transmitiam nem para as regiões próximas, muito menos para um estado inteiro ou em rede nacional. Éramos muito menos brasileiros, estávamos na retaguarda tecnológica.

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Em 2009, é tudo completamente diferente. Estamos em regime de democracia plena (apesar de alguns “arautos” imaginarem que é melhor calar a imprensa e a oposição). Os direitos humanos são respeitados, e qualquer desvio de conduta é condenado pela sociedade. Temos redes de televisão que chegam aos quatro cantos do País. Temos mais de 160 milhões de aparelhos de telefone celular, as telecomunicações estão avançadas, muito mais que em países com o mesmo grau de desenvolvimento. Os quase 200 milhões de brasileiros estão vivendo em um país que resiste à crises financeiras e cresce.

Entre estes dois períodos, está a maior revolução da mídia. A internet completa oficialmente quarenta anos, como contou o repórter Leonardo Coleto na edição de domingo de O Estado: “Ter acesso a informações instantaneamente, fechar negócios, assistir a vídeos ou até mesmo retomar o contato com amigos de infância não eram exatamente o que pesquisadores da Universidade da Califórnia, liderados por Len Kleinrock, tinham em mente, em 1969. No final daquela década, eles começaram a trabalhar no projeto que acabou resultando no instrumento que atualmente conecta dois bilhões de pessoas em todo o mundo: a internet”.

É certo que a transformação provocada pela internet foi mais sentida nos últimos dez anos, pois inicialmente (e bota inicialmente nisso) a ferramenta foi mais usada para a interligação entre faculdades e a troca de informações e pesquisas científicas. Somente em 1993 foi criado o primeiro software para a codificação das informações da rede – o que hoje chamamos de navegador. Hoje não vivemos sem um Internet Explorer, um Mozilla Firefox ou um Opera, por exemplo.

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Qualquer elemento midiático é encontrado na internet. Não seria uma maluquice dizer que todo o conhecimento físico está na rede mundial de computadores. Quem não quer se preocupar com jornais, rádios, cinema ou mesmo televisão, pode se “plugar” (o verbo criado depois da revolução) a um computador e saber tudo o que quer a um ou dois toques no mouse. É uma vitória da democracia, pois os interessados procuram apenas o que querem, sem se importunar com qualquer outra coisa – quem quer política, vê política; quem quer o jornal do dia, lê o jornal do dia; quem quer vídeos, procura, acha e assiste; e por aí vai.

Ao mesmo tempo, a internet é uma ferramenta sem controle. Os governos pensam em controlar ideologicamente a rede, mas esquecem da quantidade de referenciais de violência, sexo e drogas que abundam pelo mundo. Estas duas situações se misturam e se anulam, pois a discussão sobre a liberdade de expressão supera ambas.

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O próximo desafio é integrar a internet definitivamente à legislação de cada nação. No Brasil, discute-se qual será o papel da rede nas próximas eleições. Como fazer com que não haja excessos, que não se criem páginas de acusações torpes que prejudiquem determinados candidatos. E como fazer isso sem ferir quem quer se manifestar, e tem todo o direito? A regulamentação é fundamental para que não criemos um estado ditatorial na internet – e muito menos fiquemos reféns de bandidos que usarão computadores para subverter o processo democrático.