Por mais que estejamos a pouco menos de um ano das eleições gerais no Brasil, tinha-se a certeza de que tudo estava bem encaminhado. É só ver os possíveis candidatos à presidência da República: hoje sabe-se que Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB), Marina Silva (PV) e Heloisa Helena (PSOL) serão candidatos (resta a definição de Ciro Gomes, do PSB). Daí a constância de pesquisas de intenção de voto e as reações claras surgidas de seus resultados. Ou as discussões – via imprensa – entre os pré-candidatos e seus apoiadores diretos. E, claro, as articulações de bastidores que já tratam de nomes “prévios” como certos.

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No Paraná, as coisas também pareciam encaminhadas. Por mais que o senador Alvaro Dias (PSDB) estrilasse, seu partido está todo pendendo para o lado do prefeito de Curitiba, Beto Richa, para ser o candidato ao governo do Estado. Ele teria como adversários certos o senador Osmar Dias (PDT) e o vice-governador Orlando Pessuti (PMDB), além de um ou outro candidato nanico. Era um panorama quase definitivo, que dependia apenas de algumas conversas a portas fechadas para o acerto dos postulantes ao Senado Federal -há pelo menos sete nomes de pré-candidatos: Roberto Requião (PMDB), Gustavo Fruet (PSDB), Alfredo Kaefer (PSDB), Gleisi Hoffmann (PT), Ricardo Barros (PP), Abelardo Lupion (DEM) e João Elísio Ferraz de Campos (DEM).

Mas, em três dias, tudo mudou. E a reviravolta inesperada começou em Brasília, na tensa noite de quinta-feira, quando passou a lista de assinaturas da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que vai apurar abusos cometidos por membros do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O repórter Roger Pereira explicou na edição de sexta-feira de O Estado: “Único senador do PDT que assinou a proposta de CPMI do MST, Osmar Dias disse que agiu por coerência, sem se preocupar com as consequências eleitorais de sua decisão. Negociando uma aliança com o PT para a disputa do governo do Estado no ano que vem, Osmar é visto com resistência por alas petistas justamente por sua ligação com o agronegócio e sua assinatura na CPMI pode ser mais um argumento para o grupo contrário à aliança. (…) A presidente estadual do PT, Gleisi Hoffmann, uma das articuladoras da coligação do PT com o PDT no Paraná, lamentou a decisão do senador. Ela disse não saber o impacto que essa assinatura terá dentro do PT, mas lembrou que a defesa dos movimentos sociais é uma bandeira do partido”.

Ato contínuo, o prefeito Beto Richa reagiu, mesmo estando em Israel, onde participou de uma série de conferências. O posicionamento dele – e do PSDB – está nas páginas de sábado de O Estado: “Depois de o presidente estadual do PSDB, Valdir Rossoni ter declarado que ainda sonha com a manutenção da aliança com o PDT do senador Osmar Dias repetindo no ano que vem a grande coligação que levou o prefeito de Curitiba, Beto Richa (PSDB), à reeleição, o próprio Beto sugeriu, ontem, o resgate desta aliança. “Sempre defendi a união e a aliança dos partidos que caminharam juntos nas últimas eleições. Sempre inclui, nessa nossa intenção, o partido do senador Osmar Dias, o PDT’, afirmou o prefeito, em entrevista por telefone à rádio CBN de Cascavel”.

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Dois movimentos que precisam ser captados. De um lado, um afastamento natural, por questão filosófica, entre o PT e Osmar Dias. De outro, a manifestação de Beto “chamando” Osmar para conversar. Eles realmente se entendem e têm mais afinidades que diferenças. Para que esta união seja retomada, e que um candidato de coalizão fortíssimo seja lançado, há que se ceder e recuar. E, às vezes, a grandeza de um político está na sua capacidade de recuar sem transigir. Assim, é possível, mais à frente, dar grandes saltos – na própria carreira e na condução dos destinos do Estado.