A repórter vai para a frente das câmeras e lê a mensagem, ainda anônima, de uma moradora do Morro do Alemão, no Rio de Janeiro. No texto curto, um agradecimento aos policiais e aos militares, os “guerreiros” que estão salvando as vidas nas favelas até então dominadas pelo tráfico de drogas e pelo crime organizado. Na cartinha está uma mudança completa de relacionamento entre os órgãos de segurança e a população.

continua após a publicidade

Quando se fazem pesquisas de “confiança” pelos institutos, os funcionários públicos mais confiáveis sempre são os dos Correios, seguidos pelos bombeiros. E por que? Porque o trabalho abnegado dos “amarelinhos” está na nossa cara, todo dia, com eficiência e regularidade. Da mesma forma os bombeiros, que são uma espécie de “anjos da guarda”, apagando os incêndios, salvando pessoas que se afogam no litoral e evitando que possamos correr qualquer risco.

Os policiais estavam em baixa nesta lista. Os bons profissionais sofriam com os maus – que se envolvem em corrupção, que se aliam aos marginais e que coagem os inocentes. A chamada “banda podre” tomou conta de algumas corporações, e a clássica canção “Acorda Amor”, que Chico Buarque compôs sob o duplo pseudônimo de Julinho da Adelaide e Leonel Paiva, virava realidade no grito de “chame o ladrão”.

Mas aí surgiu um “super-herói”, um brasileiro acima de qualquer suspeita. Capitão Nascimento, o personagem de Wagner Moura na série de filmes “Tropa de Elite”, transformou o olhar do brasileiro sobre o policial. Incorruptível, agressivo e implacável com os bandidos, o comandante do Batalhão de Operações Especiais (Bope) na ficção provoca alvoroço nas salas de cinema de todo o País. Não são poucas as vezes em que os espectadores aplaudem as atitudes (e as pancadas) do capitão Nascimento.

continua após a publicidade

(O Nascimento até existe. Ele é em parte inspirado por um dos autores de “Elite da Tropa”, o livro que deu origem aos filmes. É Rodrigo Pimentel, ex-comandante do Bope, hoje coronel reformado e comentarista de segurança pública da TV Globo no Rio de Janeiro. Ele está se notabilizando por seu estilo firme de opinar na cobertura da emissora. Fecha parêntese.)

À fixação do capitão Nascimento da ficção como ídolo nacional faltava uma ação compatível com seu heroísmo e honestidade para consagrar os policiais da vida real. E ela aconteceu na semana passada, com o Bope assumindo o controle da operação de tomada de controle da Vila Cruzeiro e, dias depois, do complexo de favelas do Alemão. Lá estavam eles, com o rosto pintado, com olhares sérios e compenetrados, botando marginais para correr em rede nacional de televisão.

continua após a publicidade

E foi assim que os policiais do Rio de Janeiro conquistaram a população. Até mesmo aqueles que não aceitavam a intromissão do pessoal fardado em suas regiões (por conta da violência com que alguns tratavam os populares, confundindo força com truculência) estão hoje batendo palmas para a corporação – e aceitando o poder constituído, fugindo do crime organizado.

Para que a boa relação entre policiais e sociedade seja mantida no Rio (e estendida para o País), é necessária a constante preparação dos órgãos de segurança, a integração maior com os anseios da população e salários mais dignos, que permitam uma vida mais sossegada para quem tem como obrigação defender todos nós. Pode ser que nem todos se transformem em capitães Nascimento, mas fará muito bem para a polícia, e mais ainda para a população.