Reprovação total

“Curitiba é a terceira cidade brasileira que mais pede a extinção das torcidas organizadas, atrás de Santos e Florianópolis. Pelo menos 92% dos curitibanos acreditam que são as torcidas as maiores responsáveis pela violência nos estádios de futebol, aponta pesquisa feita pela TNS Sport Brasil, empresa especializada em pesquisas esportivas, realizada no fim de novembro nos 27 estados e no Distrito Federal. Sem as organizadas, seis em cada dez brasileiros que não vão aos estádios voltariam a frequentar as arquibancadas”.

Este é apenas um trecho da alentada reportagem de Luciana Cristo na edicão dominical de O Estado sobre as torcidas organizadas – assunto que toma a atenção de boa parte da população depois da tragédia do dia 6 de dezembro, quando vândalos invadiram o gramado do estádio Major Antônio Couto Pereira após o rebaixamento do Coritiba para a segunda divisão. Houve briga no campo, nas arquibancadas, nas ruas que circundam o estádio e na periferia de Curitiba e região metropolitana. Houve feridos, uma enfermeira perdeu três dedos da mão, um policial sofreu lesões na face por conta das agressões. Muitos foram presos, a maioria já foi solta. E a discussão sobre a influência das torcidas organizadas na violência que ronda o esporte continua.

A informação da pesquisa da empresa TNS Sport Brasil demonstra que as tais facções não tem a menor credibilidade perante a sociedade – pior, não têm sequer o apoio dos torcedores comuns, aqueles que gostam apenas do time, e não de uma torcida ou dos terríveis “comandos”, que pululam nos bairros mais pobres. Os leigos têm a total certeza que parte das organizadas o foco de guerra que explode em jogos mais importantes ou de maior público. Reação que não é só dos curitibanos, mas também da maioria dos brasileiros.

Pode-se dizer que a reprovação total é fruto de uma simplificação – “se há violência, há torcida organizada no meio”. Mas os próprios representantes das facções sabem que é assim, tanto que alguns tiveram que expulsar determinados elementos da torcida, denunciando-os à polícia em seguida. Além disso, os últimos episódios de violência indiscriminada entre vândalos têm as organizadas no centro da confusão.

É, portanto, uma visão natural a do torcedor entrevistado pela TNS. Não à toa, políticos e autoridades de segurança correram para se pronunciar pelo fim das torcidas organizadas – o principal deles foi o secretário de Estado da Segurança Pública do Paraná, Luiz Fernando Delazari, candidato nas próximas eleições e que nunca foi tão rápido para se manifestar em todo o seu período na secretaria (quem sabe os pais da menina Rachel esperassem dele atitude semelhante quando ela foi barbaramente assassinada no ano passado).

Entretanto, até o próprio secretário sabe que na base da “canetada” nada vai se resolver. É possível que as torcidas organizadas sejam extintas e a violência continuar – ou até mesmo aumentar. É preciso, sim, “tutelar” esses grupos, passando a responsabilidade criminal para seus diretores quando um ato acontecer e os responsáveis não forem identificados. Assim, os líderes das torcidas serão obrigados a colaborar sempre com as investigações. Os tais “comandos”, estes reais facções criminosas, precisam sim ser desbaratados.

Com uma identificação mais firme dos torcedores organizados (com fichas com acesso para os dirigentes e também para a polícia) e uma legislação que agilize os processos contra esses vândalos, é possível imaginar um futuro um pouco melhor. À sociedade, cabe exigir dos clubes de futebol que não subsidiem vândalos, e se manter forte para não deixar que o futebol fique refém dos bandidos. Assim, quem sabe daqui a uns anos, possamos voltar a pensar em levar nossos filhos a um campo de futebol.