Mahmoud Ahmadinejad, presidente do Irã, foi a principal personalidade da semana no Brasil. Isto porque, enfim, o líder iraniano veio ao País para uma visita ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Trouxe a tiracolo cerca de duzentos empresários em missão comercial. Sua vinda causou reações de todos os tipos: gente que não aceita a presença de um beligerante por aqui, outros que gritam pelas declarações do presidente iraniano sobre o holocausto, e até quem defende que ele converse com os brasileiros, tanto por motivos econômicos quanto políticos ou religiosos.

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A polêmica é monstruosa. E para exemplificar vale expor o depoimento de várias personalidades sobre a breve passagem de Ahmadinejad pelo Brasil. Vamos a alguns deles: Ricardo Caldas, da Universidade de Brasília (UnB): “O presidente iraniano está se tornando um pária internacional. O Brasil não tem por que se aproximar de um país com essas características”; Moshen Shaterzadeh, embaixador do Irã no Brasil: “A maioria da população brasileira ficou contente com a visita. O Irã é o país mais democrático do Oriente Médio”; Ricardo Berkiensztat, vice-presidente da Federação Israelita do Brasil: “Lula não pode avalizar um regime sanguinário. Claro que tem que ter relação institucional, comercial, mas não precisa receber o presidente do Irã”.

São três visões. A primeira, do professor da UnB, é clara – receber Ahmadinejad é se igualar a um líder que patrocina o terrorismo. A segunda, do embaixador iraniano, contraria totalmente a anterior – o povo brasileiro quer receber o presidente. E a terceira, do líder israelita, aceita que se converse economicamente e diplomaticamente, mas que não se receba Ahmadinejad no Brasil.

É muito difícil trocar impressões sobre este assunto, pois a maioria das pessoas chega com opinião pronta, como as relatadas acima. E, por incrível que pareça, é possível formar uma opinião sobre a visita do presidente do Irã ao Brasil com as três visões acima citadas. Sim, pois há que se considerar todos os lados de uma história tão polêmica e complexa.

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Há uma questão puramente diplomática. Queiram os críticos ou não, Mahmoud Ahmadinejad é presidente eleito (há suspeitas sobre fraudes no pleito?) e o Brasil tem que ter relações formais com todas as nações democráticas, até porque não houve nenhuma altercação entre Brasil e Irã.

O caráter econômico da visita também precisa ser levado em consideração. Se duzentos empresários vieram com o presidente iraniano, é que havia interesse em muitos negócios. E o Brasil não está em período de descartar possibilidades de investimento – tanto de empresas estrangeiras aqui instaladas quanto de empresas brasileiras com sedes no exterior. É um momento de afirmação de nossa economia, e não se pode deixar as oportunidades passando na nossa frente.

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Agora, não há como esquecer que Mahmoud Ahmadinejad desenvolve um perigoso projeto nuclear, e não pretende aceitar a vistoria da Organização das Nações Unidas (ONU). O presidente do Irã também negou a existência do Holocausto e mantém uma postura de tensão dirigida a Israel e Estados Unidos – tanto que aproveitou a viagem à América do Sul para conversar com os “amigões do peito” e pretensos revolucionários Hugo Chávez (presidente da Venezuela) e Evo Morales (presidente da Bolívia). Ele, apesar da postura cautelosa e educada (que ficou evidenciada na entrevista que concedeu ao jornalista Willian Wack, da Rede Globo de Televisão), não colabora em nada para a construção de uma paz global. Pelo contrário, é um dos líderes planetários mais complicados e agressivos na retórica e nas ações.

Por isso uma reação tão forte de várias entidades e de políticos. E daí havia a importância do presidente Lula ter tido uma posição clara: receber Mahmoud Ahmadinejad com a honra de um chefe de Estado, mas exigir do presidente do Irã uma postura pacifista. Teria sido uma grande vitória da diplomacia brasileira.