Radares entre o bem e o mal

Não existe alguém que nunca se irritou ao receber envelope da Polícia Rodoviária Federal ou da Setran. Ser multado não é nada agradável. A maioria dos brasileiros tem mania de não cumprir regras. O problema é que isso também vale pra quem as cria. E cá estamos nós, de novo, tratando de certo e errado.

Primeiro é necessário escalar os times. O mais barulhento deles é profundamente contra os radares que controlam velocidade, especialmente nas rodovias. Acham que são perfeitos ao volante e, mesmo quando andam rápido demais, dizem que está tudo sob controle, que era uma reta, que não vinha ninguém do outro lado, etc. Nas cidades, defendem que é um absurdo determinado limite numa via chamada de rápida.

A segunda turma acha os radares úteis, mas seus integrantes se escalam como injustiçados – ou azarados – sempre que flagrados. Ou seja, sabem que há placas indicando a velocidade adequada, ou a regra vigente, mas mesmo assim não cumprem, tanto que acabam apenados.

E há aqueles que nunca são atingidos. As tartarugas das estradas. Prudência ao extremo, o que nem sempre significa segurança. Há acidentes que têm como causa momentos de indecisão ou velocidade muito abaixo da regulamentada.

Canetada

Aí surge um presidente da República que resolve comprar essa briga, deveras popular. Desde a semana passada está suspensa a fiscalização, em estradas federais, por radares estáticos, móveis e portáteis, definidos por ele como de caráter “meramente arrecadatório”.

Difícil compreender se a intenção principal é combater quem cria regras inadequadas ou dar uma mãozinha pra quem é sempre pego de surpresa, descumprindo regras por aí. A discussão é boa, mas simplesmente cancelar a fiscalização não parece ser a melhor medida.

Fazemos coro com os especialistas que defendem mapeamento e planejamento amplo da nossa malha rodoviária, a fim garantir estradas bem projetadas, com asfalto de qualidade, pontos de apoio e limites adequados. Que se permita antar a 130 km/h onde for possível, e que se defina 40 ou 60 km/h em trechos perigosos.

Ou seja, primeiro atacar as regras e só depois o cumprimento delas. A partir daí fiscalização severa.

A decisão de Jair Bolsonaro não atingiu os radares fixos, que seguem multando. Portanto, cuidado. E essa sobre os móveis vale até que o   Conselho Nacional de Trânsito e o Ministério da Infraestrutura façam uma revisão total nos equipamentos.

No cerne da questão, estamos valando da preservação de vidas. Que seja este o interesse principal dos envolvidos, empoderados por suas respectivas canetas.

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