Os jornais do Grupo Paulo Pimentel (GPP), O Estado do Paraná e Tribuna do Paraná trouxeram ontem uma série de matérias que rememoram o trágico crime do ano passado, quando o corpo da menina Rachel Genofre, de apenas nove anos, foi encontrado dentro de uma mala abandonada na rodoferroviária de Curitiba. O acontecimento, que completou exato um ano na quarta-feira, ainda intriga as autoridades de segurança na mesma intensidade que chocou e entristeceu os paranaenses. E o que aumenta ainda mais a revolta da família e da sociedade é o fato de, 366 dias depois, não se ter sequer suspeita do que aconteceu.

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A repórter Janaína Monteiro apresentou a posição dos órgãos de segurança: “Para a delegada Vanessa Alice, do Centro de Operações Policiais Especiais (Cope), é questão de honra prender o assassino de Rachel. Várias linhas de investigação estão sendo seguidas, mas o que mais a polícia tem feito é descartar suspeitos. A única prova concreta que existe é o material genético do criminoso encontrado no corpo da menina. (…) A polícia desconfia que a intenção do assassino era viajar com a mala pelo modo como ele embrulhou o corpo. “Ele usou quatro sacos, além do lençol de uma marca comum’. De 202 suspeitos, 47 foram submetidos a exame de DNA. “Foi colhido material de todos os pedófilos com histórico de crimes sexuais que saíram da cadeia ou que estão internados para tratamento’, contou a delegada”.

Portanto, foram mais de duzentas pessoas colocadas em suspeição em um ano. Quase uma a cada dois dias de investigação – pois se imagina que a polícia paranaense destacou profissionais para apenas acompanhar este caso, tal a repercussão que ele teve. Mesmo assim, até agora quase nada se sabe de concreto sobre o que aconteceu. Pelo contrário, imagina-se que o assassino de Rachel seria alguém próximo da menina, e que teria feito contato com ela pela internet, mas não se faz a menor ideia de quem seja esta pessoa.

Vamos nos transportar, um instante que seja, para a família da criança. Para aqueles que adoravam aquela menina “com inteligência acima da média. Rachel já sabia o que queria ser quando crescesse. Iria montar um atelier de costura e ser modista”, como contou a repórter Mara Cornelsen. Nessas pessoas existe um buraco que nunca mais será preenchido. É a ausência dela, perdida tão jovem e numa situação tão horrenda que jamais será cicatrizada. O pouco que poderia minorar este sofrimento é a descoberta do assassino, seu julgamento e depois sua punição pela justiça.

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O que não podemos é transformar qualquer suspeito em réu confesso. Vimos isto em outro rumoroso caso, o crime do Morro do Boi, em que um acusado foi considerado o executor do jovem Osiris del Corso, um outro cidadão apareceu dizendo que era o assassino e depois garantiu ter confessado sob tortura. O caso, como o de Rachel, segue sem definição clara – apesar de, ao menos, neste existir uma testemunha viva, a então namorada de Osiris, Monik Pegorari de Lima.

Sociedade e mídia têm tarefas semelhantes: precisam instigar as autoridades a continuarem investigando o assassinato de Rachel, sem, no entanto, buscarem personificar em algum suspeito a resolução imediata do crime. A mídia, principalmente, cometeu muitos excessos em situações passadas ao tentar solucionar mistérios que nem mesmo os policiais tinham resolvido.

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E a obrigação dos órgãos de segurança é acabar com a agonia dos familiares da jovem vítima. Lá se foram 366 dias em que as autoridades não demonstraram a capacidade para encontrar o assassino de Rachel. Quem sabe, se o secretário da Segurança Pública, Luiz Fernando Delazari, parar de achar que o Paraná é uma ilha de tranquilidade e começar a trabalhar, a gente possa ter boas notícias nos próximos meses.