Prisões e julgamentos

Sábado, a Polícia Civil e a Secretaria de Estado da Segurança Pública do Paraná apresentaram quinze torcedores do Coritiba (um deles, dirigente do clube) que foram identificados nas tristes imagens do vandalismo ocorrido no dia 6 de dezembro, quando o time paranaense empatou com o Fluminense e foi rebaixado para a segunda divisão do campeonato brasileiro. Eles foram detidos em uma operação rápida e surpreendente, que também apreendeu computadores, um DVD sobre o mentor do nazismo Adolf Hitler, faixas, uniformes, drogas e armas.

Na edição de domingo de O Estado, o repórter Marcelo Vellinho contou novos detalhes sobre o caso: “De acordo com as investigações do Centro de Operações Policiais Especiais (Cope), a invasão de campo e o ataque a jogadores e diretores do clube, que resultaram em confronto com policiais militares, fizeram parte de uma ação criminosa planejada por integrantes da Império Alviverde. Também participaram torcedores não filiados à torcida organizada, que aproveitaram a baderna para protestar contra o rebaixamento do time. As imagens do quebra-quebra e, principalmente, das agressões contra o soldado Luís Ricardo Gomides, do 12.º Batalhão da Polícia Militar, que ficou desacordado e teve que ser transportado de helicóptero ao hospital, foram divulgadas por diversos veículos de comunicação e ajudaram a polícia a identificar os suspeitos. (…) Segundo a polícia, a maioria dos presos é integrante da Império Alviverde. A sede da torcida foi interditada e permanecerá fechada até o final das investigações. “Esta é a prova de que as torcidas organizadas são verdadeiras organizações criminosas. Nossa intenção é extingui-las do futebol’, declarou o secretário Luiz Fernando Delazari”.

O caso é polêmico, e gera uma discussão quase sem fim. A posição do secretário é radical e tem o apoio de muitos, que não aguentam mais as cenas de selvageria – como as vistas no estádio Major Antônio Couto Pereira e que se repetem nos terminais, praças e ruas de Curitiba após jogos entre Atlético, Coritiba e Paraná. A pergunta que fica é a seguinte: será que só isso resolve? Certamente nem o secretário acredita que simplesmente extinguir as torcidas organizadas resolve o problema da violência no futebol, como num passe de mágica.

As autoridades de segurança, o Ministério Público e os clubes de futebol precisam, acima de tudo, acabar com o vínculo obsceno dos times e seus diretores com as torcidas organizadas. Como o procurador-geral do Estado, Olympio de Sá Sotto Maior, declarou durante a semana, as torcidas precisam ter um cadastro completo de todos os seus sócios para continuarem atuando. E as penas precisam ser mais duras para os bandidos que transformam o esporte em pesadelo para os verdadeiros torcedores.

Enquanto isso, o Coritiba passa hoje por uma tarefa difícil – quase impossível -, que é justificar alguma coisa sobre os fatos daquele fatídico dia 6 no Superior Tribunal de Justiça Desportiva. O clube será certamente punido exemplarmente, provavelmente com a pena sugerida pela procuradoria, a perda de trinta mandos de jogo e uma multa de R$ 620 mil.

É justo e é a hora correta disto acontecer. Chegou a hora de que uma decisão forte seja pronunciada contra a violência no esporte. A torcida do Coritiba pode alegar, com razão, que houve outras brigas e nada aconteceu, mas a batalha campal do Alto da Glória levou a crise a um nível inimaginável. E sobrou para o time paranaense pagar pelo ato impensado (ou pensado?) de alguns bandidos – e a torcida do Coxa sofre agora para mostrar que não é conivente com aqueles que mancharam para sempre uma história de cem anos.

É com as punições dentro de campo e na Justiça que vamos começar a travar uma luta contra os que querem fazer do esporte mais popular do País a barbárie que vimos em nosso próprio Estado.