Na política paranaense, movimentos como o que vemos hoje são naturais. Um governador é eleito (no caso, Beto Richa), e todos os setores moderados acabam se alinhando ao poder estabelecido. Mesmo alguns que fizeram campanha contrária até o dia 3 de outubro, quando Beto foi eleito no primeiro turno, hoje compõe a base aliada, formando uma sólida linha de defesa na Assembleia Legislativa e nas prefeituras municipais.
Com isso, geralmente a oposição se enfraquece. Fica em número reduzido, e sequer pode requerer a abertura de comissões de inquérito, por exemplo. Mas como todos já conhecem esta peculiaridade, não há surpresa nem irritação. Há, claro, a preocupação de quem fica do “outro lado”.
A partir de 1.º de janeiro, quando Beto Richa tomar posse do governo do Paraná, terá grande apoio político. Mas também terá oposição, como registrou a matéria da repórter Elizabete Castro em O Estado: “Apesar de ter sido mal sucedido na aliança que fez com PMDB e PDT para disputar o governo do Estado, o PT do Paraná concluiu que se saiu muito bem nas eleições deste ano no Estado. A avaliação foi feita durante reunião do diretório estadual, em que o partido reafirmou a condição de oposição ao governo de Beto Richa (PSDB) e anunciou que não apoiará a candidatura do presidente estadual do PSDB, Valdir Rossoni, à presidência da Assembleia Legislativa. O presidente estadual do PT, Ênio Verri, disse que a bancada descarta a proposta de tentar articular uma chapa de oposição a Rossoni e irá se abster na votação. De acordo com Verri, a rejeição do deputado tucano à representação proporcional dos partidos na Mesa e ao fim da reeleição para os cargos determinaram a posição do PT. Verri lembrou que os dois pontos estavam na Proposta de Emenda Constitucional (PEC), arquivada a pedido da bancada devido às mudanças feitas ao texto pelo futuro líder do governo e relator da proposta, Ademar Traiano (PSDB)”.
A posição solitária do PT é a única que o partido poderia ter no Paraná. Nada explicaria uma adesão ao governador eleito, justamente do PSDB, partido que é hoje antagônico aos petistas no governo federal. E, no final das contas, mesmo a representação partidária na Assembleia Legislativa não explicaria uma participação na Mesa Diretora – fica até melhor para o PT não integrá-la, para justificar ainda mais a sua posição.
Caberá ao partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da futura presidente Dilma Rousseff ser a única oposição visível ao governo Beto Richa. Será um empecilho mais midiático que político, pelo menos nos primeiros meses de mandato. Com apenas a própria bancada, os petistas tentarão fazer barulho no início da “era Beto”, mas pouco farão diretamente na Assembleia. Aos poucos, tentarão buscar alguns dissidentes na base aliada para conseguir “atrapalhar” o governo.
Só espera-se que o PT tenha na Assembleia Legislativa a responsabilidade que ele mesmo exige dos outros partidos na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. A oposição precisa ser propositiva, a crítica tem que ser construtiva e os deputados precisam apresentar projetos que beneficiem a população. É isto que os eleitores esperam de seus representantes no Legislativo, e não as picuinhas dos bastidores. O PT tem bons deputados em sua bancada, e confiamos que eles vão ser tão interessados na melhoria da vida dos paranaenses quanto nos planos para as eleições municipais de 2012.