É incrível que ainda existam políticos e administradores públicos que não perceberam a importância da cultura e do esporte nos projetos de inclusão social. Não é necessário fazer muita força para compreender que jovens e adultos com mais opções de cultura e mais opções de prática esportiva serão cidadãos mais preparados, com melhor saúde, com mais educação e certamente mais longe das ameaças da criminalidade.
E é por isso que é de se assustar quando um prefeito ou governador diz que não investe em cultura porque precisa de “dinheiro para construir escolas e hospitais”. Mais corretos estão aqueles que inserem o conhecimento cultural dentro da educação e da saúde, que apostam na inserção dos jovens em um cenário geralmente desconhecido, o das artes, e que conseguem criar uma verdadeira política social para suas regiões.
É o que esperamos do Paraná nos próximos anos. Nos últimos, tivemos boas iniciativas quase sempre ligadas ao Museu Oscar Niemeyer. Os outros museus (incluindo o da Imagem e do Som), os equipamentos públicos no interior do Estado, o Teatro Guaíra e principalmente a TV Educativa foram ou esquecidos ou sucateados.
A emissora de TV pública do Paraná teve mais um problema – a instrumentalização política. Foi imaginada, dentro do governo de Roberto Requião, como um meio de beneficiar apenas os mais próximos do poder. Por mais que os profissionais tentassem botar ordem na casa, os diretores da TVE só olhavam para os interesses do então governador. O símbolo desta fase foi a criação da “Escola de Governo”, palanque eletrônico em que Requião elogiava os próprios feitos e criticava aqueles que não diziam amém.
Mudar tudo isto não será fácil, e será tarefa do novo secretário da Cultura, o jornalista Paulino Viapiana. Em entrevista à repórter Luciana Cristo, ele falou sobre a falta de políticas públicas estaduais: “Atribuo isso a uma falta de articulação e planejamento estratégico do governo do Estado, que se preocupou em desenvolver áreas como educação e agricultura, mas nunca colocou a cultura como questão estratégica nesse planejamento. É uma falta de visão estratégica das gestões que passaram por aqui nos últimos anos. Não houve preocupação, então não se tem fomento, tem cada estrutura agindo independente. É preciso dotar o Paraná de uma estrutura legal de fomento e apoio à cultura. Pretendemos encaminhar à Assembleia Legislativa a proposta do Programa Estadual de Fomento à Cultura, com a previsão de criar incentivos fiscais por lei para o setor, garantindo o financiamento cultural. (…) As instituições que hoje são personalistas, com base no gosto de quem administra, passarão a ter orientação de um conselho que vai decidir que tipo de exposições preferencialmente será feito, como gastar os recursos, qual linha vai se seguir”.
Tanto na explicação sobre a ausência de planejamento cultural, quanto na definição do estilo de comando das instituições oficiais, o jornalista e futuro secretário foi perfeito. Primeiro, há uma necessidade de incluir, como já foi dito, a cultura dentro do plano de governo. E parece que isto vai acontecer. E, depois, a TVE, o museu Oscar Niemeyer e todos os outros instrumentos de difusão cultural do Estado não podem servir a um senhor. Precisam servir aos paranaenses, acima dos governos, acima dos protagonistas. Isto sim é ter política para o setor, e não usar o setor para fazer política.