Partidos e divididos

O quadro partidário no Brasil funciona como bizarra agência de empregos ou imobiliária que loteia nacos do poder central. Não há estrutura ideológica ou programática séria. Tudo está à venda, tudo se negocia. Isto não é novo. E quando se fala em reforma política, há total desinteresse. Do jeito que está, para quem está dentro, não tem coisa melhor. Para o povo do lado de fora, não há nada pior que um bando de políticos que pensam em seus interesses e esquecem os da nação.

Vejamos. O PT, ciente de que seu mentor, ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, definiu as últimas eleições presidenciais, abarca os principais cargos do governo Dilma Rousseff, seja em primeiro, segundo e terceiro escalões. O PMDB que pegou carona, mas deu preciosos minutos de exposição no horário eleitoral. Agora acha que merecia naco melhor na partilha, embora, pelo esforço que fez, está de bom tamanho. Se o PMDB fosse zeloso gerente da coisa pública, teria direito a espernear. mas onde entra aparece corrupção, como o caso da Funasa. Um rombo de R$ 500 milhões. O partido finge não ser com ele, e quer mais. E briga. Com o PT, que tem o controle da situação. Na briga vale tudo: ameaças e chantagens ao Palácio do Planalto.

O vice-presidente Michel Temer, cacique-mor do PMDB, finge que administra o motim, que é estimulado por outro cacique, José Sarney, “conselheiro” de Dilma Rousseff. Olha o tamanho da fuzarca! Temer quer se consolidar como o dono da legenda e está em vias de domar o PMDB de São Paulo, até então subordinado ao ex-governador Orestes Quércia, que morreu. É nesse samba do crioulo doido que quer se meter o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, do DEM. O DEM, que era pequeno, corre o risco de ficar ainda mais insignificante, o que não significa que também não promove violentas escaramuças entre seus caciques, como José Agripino e Rodrigo Maia.

No PSB a briga é entre o presidente do partido e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, com os irmãos Cid e Ciro Gomes, do Ceará. Numa engenharia arquitetada pelo primeiro, visando disputar a sucessão presidencial em 2014, Campos encorpou o partido com seis governadores, numa estratégia que rendeu simpatias do Planalto. Quem não gostou foi Ciro Gomes, que levou a maior rasteira de sua vida política e perdeu o rumo. Aliado do PT, o PSB ensaia – se tudo correr bem – desgrudar da confederação partidária administrada pelo governo Dilma e ser uma nova opção. Por enquanto, muita ousadia, mas ousar é essencial à sobrevivência.

E falando em sobrevivência, o PV aparentemente sobrevive de Marina Silva e Fernando Gabeira, sem tornar-se real opção no curto prazo. E o PSDB? Cheios da autossuficiência do ex-governador José Serra, com duas derrotas presidenciais no currículo, novos caciques jogaram-no para o acostamento. Quem manda agora são o senador Aécio Neves (MG) e o governador Geraldo Alckmin (SP). Todos juntos, mas separados. Serra devia saber que no Brasil, se não pode dar emprego público, não tem poder político. A sua situação caminha para o estágio do ex-presidente FHC: um cardeal a ser ouvido, que fala muito e manda pouco. E nada mais. Uma situação oposta à de Lula, no PT. Que manda tanto que vai até receber salário de R$ 15 mil (além da aposentadoria de ex-presidente da República). Talvez este seja o segredo do PT: embora os militantes se estapeiem, tem disciplina, líderes e, o fundamental, são fiéis ao partido. Os demais, além de pequenos e decadentes, estão rachados. E sem povo.