Outra “herança”

Nas últimas semanas, este espaço repercute algumas das situações mais delicadas que o governo de Beto Richa, que assume em 1.º de janeiro, vai enfrentar logo de cara. Falou-se da falta de dinheiro, da dificuldade de investimento, do aparelhamento da administração pública, da falta de políticas específicas para esporte e cultura, dos problemas sérios da educação e da segurança. E ainda tem o porto.
Ou melhor, a Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa), que o ex-governador Roberto Requião julgava ser o símbolo de sua gestão. Até era, mas não da forma como ele imaginava.

Nada representou mais a queda de competitividade da economia paranaense como o Porto de Paranaguá, que perdeu espaço na disputa com Santos (SP) e São Francisco do Sul (SC) e se viu envolvido em uma onda de confusões, muitas delas protagonizadas por seu então superintendente Eduardo Requião, que tem como sua principal virtude como administrador de portos o fato de ser irmão de governador.

A Appa terá novo superintendente a partir de janeiro. Aírton Maron é o nome dele, e seu perfil foi apresentado em O Estado pela repórter Elizabete Castro: “Funcionário da Appa há 31 anos, o futuro superintendente da Appa foi coordenador geral de Operações, chefe do Departamento de Operações, chefe da Divisão de Engenharia e do Departamento de Engenharia. Em oito anos, o Porto de Paranaguá foi cenário de diversos conflitos. O primeiro deles eclodiu logo no início do governo Requião, em 2003, quando o Paraná proibiu a exportação de produtos transgênicos pelo Porto de Paranaguá. A queda de braço durou até o momento em que o Congresso Nacional aprovou a liberação dos transgênicos, em 2004. O novo superintendente dos portos de Paranaguá e Antonina herdará a novela da dragagem do canal da Galheta, que já dura oito anos. O governo tentou comprar uma draga da China. O processo virou alvo de denúncias de irregularidades e fracassou. De acordo com o Ministério dos Portos, Paranaguá é o porto que está mais atrasado em relação às obras do Programa Nacional de Dragagem. (…) Maron também terá que administrar a dívida trabalhista da Appa. De acordo com documentos obtidos por O Estado, até setembro deste ano foram executados R$ 21,8 milhões em ações movidas por ex e atuais trabalhadores dos portos. Entre os contemplados por uma das sentenças favoráveis dessas ações está o próprio Maron”.

O texto é autoexplicativo – e por isso o motivo de um trecho maior ser separado. Não se tratam aqui de discussões ideológicas, como Roberto Requião gosta de dizer quando é contestado. De forma alguma o foco dos problemas (ou das soluções) na Appa, e principalmente no Porto de Paranaguá, está na linha de conduta ser mais de direita ou mais de esquerda. O que ela precisa ser, de esquerda ou de direita, é mais eficiente.

E foi isto que não aconteceu nos últimos oito anos. Quando se fala que as obras de dragagem no canal da Galheta estão atrasadas – e a confirmação vem do Ministério dos Portos, e não dos pretensos inimigos políticos da família Requião -, não se fala de ideologia, mas sim de ineficácia. Da mesma maneira os problemas trabalhistas, que são inaceitáveis dentro de uma estrutura que deveria ser azeitada. Entende-se que vez por outra possam acontecer problemas com funcionários que vão parar na Justiça. Mas não R$ 21,8 milhões em um espaço de tempo tão curto. Sem contar a desastrada decisão de proibir os produtos geneticamente modificados.

Maron receberá uma “herança” e tanto. E vai ter que administrá-la com mãos de ferro desde o dia 1.º de janeiro.

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