Nos últimos dois anos, ou talvez três, apenas um candidato ao governo do Paraná na eleição de 2010 era conhecido. O senador Osmar Dias (PDT), derrotado pelo governador Roberto Requião (PMDB) por cerca de dez mil votos no pleito de 2006, estava se preparando para mais uma disputa, e imaginava que teria caminho livre. Contava com o apoio de todos os partidos de oposição a Requião – PPS, DEM, PSB e PSDB -, tinha ao seu lado grandes nomes dos últimos governos estaduais e saíra, enfim, da sombra do irmão, o também senador e ex-governador Alvaro Dias (PSDB).

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A rota tranquila de Osmar mudou de um ano para cá. Primeiro, com o interesse claro do irmão Alvaro em também ser candidato ao governo do Estado. Depois, com a clara intenção do tucanato em ungir o popularíssimo prefeito de Curitiba, Beto Richa, como postulante ao Palácio Iguaçu. Até mesmo a chance de união com o PT, uma alteração radical em todos os planos do pedetista, ficou enrolada com a recusa – pelo menos para consumo externo – de Requião em apoiar o senador, preferindo apoiar – também para efeito de comunicação ao eleitorado menos atento – o vice-governador Orlando Pessuti (PMDB).

Era necessário segurar o passo. E foi o que aconteceu, como relatou a repórter Elizabete Castro na edição de ontem de O Estado: “O presidente estadual do PDT, Augustinho Zucchi, disse que a única certeza no partido para 2010 é que o senador Osmar Dias será candidato ao governo. De resto, tudo é uma incógnita, disse Zucchi, referindo-se especialmente às alianças. “Não sabemos como vai ser ou com quem serão as alianças’, disse o presidente estadual do partido. Ele foi um dos participantes do almoço de sábado passado, na casa do prefeito de Matinhos, Eduardo Dalmora (PDT), que reuniu Osmar, a presidente estadual do PT, Gleisi Hoffmann, e o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. (…) Na versão de Zucchi, as negociações entre PDT e PT não avançaram um milímetro depois desse almoço. (…) “Imagine, se numa reunião como aquela com várias pessoas, eles iriam falar sobre um acordo para 2010. Falamos sobre coisas normais de convivas em um almoço’, disse o dirigente do PDT”.

Poderia ser o momento ideal para alinhavar a parceria entre petistas e pedetistas, muito segura no governo federal (o presidente licenciado do PDT, Carlos Lupi, é ministro do Trabalho). O ministro Paulo Bernardo e sua esposa Gleisi Hoffmann – que será candidata ao Senado no ano que vem – adorariam anunciar, pela imprensa ou pelo Twitter, que vão de Osmar. Até mesmo adesivos que unem o senador à ministra-chefe da Casa Civil e pré-candidata do PT à presidência da República, Dilma Rousseff, já estão prontos para serem distribuídos por um comitê suprapartidário.

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Mas nada disso aconteceu. Pelo contrário, o PDT decidiu recuar, admitindo a hipótese de definir alianças apenas após o Natal. Quer dizer, somente no ano que vem. A ousadia mostrada por Osmar e seus aliados (que sempre lideraram a oposição renhida a Requião nos últimos três anos) deu lugar à prudência, de forma rápida e surpreendente.

A pergunta que fica é a seguinte: será que era a hora certa de recuar? Talvez fosse preciso. Na política é importante saber que um passo para trás pode significar um salto para frente. Mas era agora o momento? Justamente quando o PMDB se prepara para incensar Pessuti e quando o PSDB deixa claro que terá candidato, seja Alvaro, seja Beto? A impressão que se tem é que o PDT (e claramente Osmar) esperava uma aliança quase completa para levá-lo à vitória no ano que vem. No momento em que tudo parece contrariar o partido, tenta-se um recuo estratégico. Ao mesmo tempo, reforçando o fato que o senador será candidato, tenta-se manter o nome dele no foco político. É uma manobra arriscada, que pode afastar potenciais apoiadores da candidatura de Osmar – aqueles que, no vácuo dos bastidores, podem aportar nos barcos do PMDB ou do PSDB.

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