O silêncio de Serra

José Serra esteve quinta-feira em Curitiba. Participou de eventos, contatou políticos, encontrou a população. Mas não falou publicamente de sucessão presidencial nem da disputa interna do PSDB para a escolha do candidato ao governo do Paraná.

O repórter Roger Pereira “perseguiu” Serra e contou na edição de ontem de O Estado: “Num palanque lotado de políticos e com uma plateia de mais de duas mil pessoas, o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), participou, em Curitiba, do lançamento do programa Mulher Curitibana, de prevenção do câncer de mama, ao lado do prefeito da capital, Beto Richa (PSDB). Apontado como principal nome tucano para a sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Serra, que também visitou o governador Roberto Requião (PMDB), em público, pouco falou de política. “Minha candidatura é uma questão que o partido irá decidir no momento certo. Houve antecipação do processo eleitoral, mas minha preocupação é governar São Paulo. Da minha parte, só haverá decisão quando se aproximar o prazo para desincompatibilização’, disse o tucano. (…) Serra também evitou comentar o quadro sucessório no Paraná. Questionado sobre qual seria seu melhor palanque no Estado, com Beto Richa, Alvaro Dias (PSDB) ou Osmar Dias (PDT), disse que essa é uma questão de Estado e que o PSDB do Paraná está muito bem servido e eles poderão tomar a melhor decisão”.

Foram declarações decepcionantes – para a imprensa, para os aliados e para os inimigos do governador de São Paulo. A imprensa esperava que José Serra fosse mais direto, e pelo menos se manifestasse como candidato à presidência da República. Os aliados imaginavam que viria um governador pronto para ungir-se como postulante e, ao mesmo tempo, indicar seu candidato preferido no Paraná. E os inimigos torceram por um deslize qualquer que possibilitasse as críticas e novos ataques ao tucano.

Serra não deu brechas para ninguém. Preferiu o silêncio, apesar de ter falado bastante durante a passagem por Curitiba. Andou no fio da navalha e conseguiu chegar ao final de todos os eventos sem qualquer tipo de incômodo. E mantendo uma pretensa unidade entre seus aliados no Paraná – que, mais cedo ou mais tarde, vai se esgarçar.

Como apontou a reportagem de O Estado, José Serra esteve com Beto Richa, Alvaro Dias e Roberto Requião. Se não tratou com Osmar Dias, fez isso há alguns dias, em São Paulo. Portanto, não deixa nenhuma porta fechada aqui no Paraná. Para o governador paulista, isto é fundamental em um início de caminhada eleitoral – pode não parecer, mas a corrida presidencial é mais incipiente que a disputa estadual, até porque os principais partidos já encaminharam seus candidatos, o que não aconteceu aqui, onde o próprio PSDB ainda não tem candidato certo ao governo. Se Beto Richa é o nome potencial, Alvaro Dias ainda tenta cacifar sua candidatura.

Serra sabe que precisará do maior número de apoios possível para reforçar seu palanque. Tanto que não teve dúvidas em se unir com um político que representava tudo que o PSDB queria evitar quando foi fundado, o ex-governador de São Paulo Orestes Quércia. Alianças com Requião ou Osmar, que tem mais afinidades, seriam naturais, desde que elas tenham uma forte representatividade dentro do ninho tucano.

Sim, pois Serra terá que se aliar, mas precisa ter o PSDB totalmente fechado com sua candidatura, o que não aconteceu quando tentou a presidência em 2002. Criar rusgas não ajudará em nada o governador de São Paulo. Daí o silêncio da última quinta-feira e as conversas reservadas com vários políticos. A costura da aliança é passo fundamental para as pretensões tucanas na eleição presidencial do ano que vem.