“Nunca antes na história desse País” alguém lutou tanto para assumir o cargo máximo do Poder Executivo. Foram cinco tentativas. Duas com êxito. E, ao final de oito anos de mandato e gozando dos mais altos índices de popularidade já vistos, Luiz Inácio Lula da Silva sai dizendo que não pretende retornar e que irá começar a trabalhar pela reeleição de Dilma Rousseff. Será possível acreditar no presidente da República? Como apostar em alguém que tanta intimidade construiu com o cargo e que soube, como ninguém, se valer das prerrogativas de chefe de governo e de chefe de Estado para transformar sua imagem de operário sindicalista na de um habilidoso estadista?

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Para coroar sua gestão, Lula fez sua antipática ministra-chefe da Casa Civil se tornar a primeira mulher presidente do Brasil. Logo ela, que jamais havia disputado uma eleição sequer. Não foi só uma demonstração de força. Foi bem mais que isso. Afinal, não são todos os governantes que conseguem eleger seus sucessores. Por mais populares que sejam, muitos não são eficientes na transferência de votos. E, apesar da soma de tantas vitórias, o presidente espalha aos quatro ventos que torce pelo sucesso da pupila, porém deixa escapar, muito de vez em quando, que sentirá saudade do Palácio do Planalto. É claro que o poder lhe fará falta. A mordomia e o glamour viciam.

O fato de Lula sentir a necessidade de vir a público para afirmar e reafirmar que não será copiloto de sua sucessora e que não está em seus planos concorrer a qualquer cargo eletivo é sintomático. Demonstra que ele não esquece do assunto, que ainda vê como real a possibilidade de retornar ao posto máximo da República. E isso não é de agora. Basta lembrar quantos foram os parlamentares ligados ao presidente que acenaram com projetos de lei para liberar a reeleição por mais de dois mandatos. Eles não fariam isso à revelia do mandatário, que ainda diz por aí nunca ficou tentado a mudar a Constituição e garantir a si a possibilidade de um terceiro mandato. Segundo ele, quem cria o terceiro mandato, cria o quarto e o quinto e assim por diante. Tudo da boca para fora.

A prova de que Lula planejou sua perpetuação no poder virá após os primeiros meses da gestão de Dilma. Ele não ficará acomodado em seu apartamento em São Bernardo do Campo sem dar “pitacos” sobre a forma como o País deve ser gerenciado. Ele também não esconde sua admiração por ditadores populistas, como Hugo Chávez e Fidel Castro, que conseguiram se enraizar no poder. E como explicar sua constante briga para controlar a imprensa? A regulação da mídia é defendida como “necessária”. São as faces antidemocráticas de um presidente que viveu os “anos de chumbo” e que deveria saber o quanto é perigoso restringir a liberdade de expressão.

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Lula ainda tenta se livrar de cobranças ao justificar que não defende o controle da mídia, mas a responsabilidade dos meios de comunicação. Ele aponta que a mídia precisa parar de achar que não pode ser criticada, porque toda a vez que é criticada confunde a crítica com censura. Contudo, o presidente não sabe dizer como seria exatamente o controle que defende, e se limita a afirmar que é preciso que os jornais publiquem informações da forma mais correta. Falta clareza e isso dá brechas para que todos desconfiem das intenções do petista.

Imprensa livre é sinal de progresso e evolução da sociedade. Os excessos e atos com tendências criminosas devem ser punidos com o rigor da lei e com a intermediação do Poder Judiciário. Lula não precisa carregar a marca negativa de ter restituído a censura. Seu tempo está quase no fim e sua gestão será lembrada como um dos melhores períodos da história brasileira. “Para o bem de todos e a felicidade geral da Nação”, o presidente deve aceitar sua aposentadoria. E viva a alternância no poder, pilar da democracia.

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