O mínimo

Não há razão em apagar realizações do antecessor para fortalecer a própria gestão. É sinal de prudência e respeito ao erário analisar com cuidado extremo os projetos em andamento e manter em funcionamento aqueles que trazem bons retornos à sociedade. A mesquinhez deve ser deixada de lado. Deve prevalecer o bom senso. Pena que o mais comum no Brasil é a disputa de ego, onde os políticos que iniciam seus mandatos gastam boa parte do tempo e dos recursos públicos para destruir as realizações de quem saiu de cena. Pior ainda é quando quem entra faz parte do grupo oposicionista de quem deixa o posto. As consequências dos atos não são medidas e os contribuintes pagam a conta da politicagem. E sai caro. Muito caro.

O governador recém-empossado tem dado algumas mostras de que vai cumprir uma de suas promessas de campanha: manter e ampliar as boas iniciativas do ex-governador Roberto Requião (PMDB). Sem melindre. É uma atitude nobre e merece elogios. Nada perto do que fez Requião com seu antecessor, Jaime Lerner. Basta lembrar que até nos últimos dias dos seus quase oito anos de gestão, o ex-governador, hoje senador eleito, atacava Lerner e fazia questão de recordar as mazelas da antiga administração. Soou como desculpa para justificar as próprias falhas. Ou o longo período em que esteve no comando do Poder Executivo ainda não foi o bastante para dar conta dos problemas do Estado? Requião teve sua chance e não soube aproveitá-la. Entregou o cargo a seu vice, Orlando Pessuti (PMDB), com o Paraná em situação pior do que quando assumiu. Por sua vez, Pessuti conseguiu aumentar as dores de cabeça de Beto Richa (PSDB).

Com a disposição de sustentar alguns projetos idealizados pelo governo que o antecedeu, Richa destacou o secretário estadual do Trabalho, Emprego e Promoção Social, Luiz Cláudio Romanelli, que é filiado ao PMDB e exerceu a função de líder de Requião na Assembleia Legislativa do Paraná, para cuidar do salário mínimo regional. O piso é amparado pela lei complementar federal n.º 103, do ano 2000, que prevê a instituição nos estados e Distrito Federal de um salário-base para os empregados que não tenham o mesmo definido por legislação federal, convenção ou acordo coletivo. No Paraná, foi instituído em 2006 e é o maior salário regional do Brasil. Atualmente, os valores variam de R$ 663,00 a R$ 765,00 para quatro categorias de empregados. São cerca de 350 mil paranaenses, entre trabalhadores do campo, domésticas, trabalhadores do comércio, do setor de produção de bens e da indústria.

Acerta o governador ao atender os interesses dessa parcela da sociedade sem se importar que o projeto tenha sido implantado por Requião. E a discussão atual não é só para perpetuar a iniciativa. Em reunião com integrantes da Coordenação Federativa dos Trabalhadores do Paraná (CFT-PR), Romanelli assegurou que a atual gestão pretende manter o salário mínimo diferenciado no Estado e, inclusive, reajustá-lo em cerca de 10%. Acerta também o secretário ao avaliar que o piso “é um instrumento poderoso para superar a profunda desigualdade social que nós temos hoje. Nosso Estado merece ter, cada vez mais, boas políticas públicas”.

O que não pode ser esquecido é que, ao lado de bons projetos, ocorreram denúncias de corrupção e mau uso do dinheiro público. E, apurar a veracidade dos fatos, apontar e punir os possíveis culpados também é obrigação dos que hoje dirigem o Estado e do Poder Judiciário.

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