O medo da bolha

O mundo já estava soltando foguetes por conta da gradual recuperação da economia internacional. Os reflexos da crise financeira, um vendaval que assolou o planeta no final do ano passado, foram sentidos até a metade do ano, e depois de um rápido período de estagnação, os países começaram a emitir sinais de melhora – até mesmo os Estados Unidos tiveram números favoráveis.

Mas a economia voltou a ficar em alerta com a moratória de Dubai. O emirado no Oriente Médio, uma espécie de símbolo da pujança da região, não tem dinheiro para pagar suas contas, seus faustosos prédios e as brutais obras de intervenção urbana. São quase sessenta bilhões (é, bilhões) de dólares em dívidas a serem pagas. E como o conglomerado Dubai World não tem fundos, acabou pedindo moratória – a última tacada para evitar a quebra da cidade-estado.

O fato assustou todo mundo. O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, precisou vir a público para manter a calma, como relatou o jornal O Estado de S. Paulo: “Segundo ele, as instituições nacionais não têm nenhum tipo de vinculação comercial com este conglomerado porque há “restrições da regulação prudencial brasileira’. “O Brasil está preparado para enfrentar como enfrentou no passado situações muito piores’, comentou ao ressaltar que o País foi bem-sucedido para sair da crise financeira internacional e tem plenas condições de superar “oscilações de humor’ registradas nos mercados.

Meirelles disse ainda que “não se prevê colapso do sistema financeiro internacional’ a partir do episódio envolvendo o Dubai World. “Agora, é uma situação completamente diferente. É uma situação externa a um grande mercado central’, afirmou após fazer palestra durante evento em São Paulo”.

Só que o sinal vindo do Oriente Médio se uniu à uma possível bolha econômica produzida pela China, e que já vem sendo estudada por economistas. Alguns têm certeza que haverá um novo crescimento gigante do planeta seguido rapidamente pelo “estouro da bolha”. A China está empurrando todo o continente asiático para cima, e tudo que diz respeito aos países da região está subindo – do valor dos produtos exportados aos prédios de apartamentos em Hong Kong. Na sua última edição, a revista Exame aponta os recordes de preços na antiga colônia inglesa, hoje reincorporada à administração chinesa.

Uma euforia, apesar de ser sempre melhor que uma depressão, é acompanhada com atenção pelos economistas – que precisam ser mais que analistas, e sim “pitonisas” que têm a obrigação de antever possíveis problemas. Quem conseguiu fazer isso em setembro do ano passado tem agora o status de grande especialista em macroeconomia.

O que surpreende ainda é que a economia mundial, com baques intermitentes, ainda não tenha algumas bases seguras em países fundamentais. Caso específico dos Estados Unidos, que quando foi ameaçado sofreu muito e precisou de forte intervenção estatal, incomum no berço do capitalismo moderno (e selvagem). Agora, volta a se pensar em riscos para a maior economia do planeta, meses depois dos primeiros números positivos da economia no governo do presidente Barack Obama.

Quem conseguir ter estruturas mais “sólidas” passa sem maiores problemas por tempestades econômicas. Foi o que o Brasil mostrou ter no ano passado. Claro que houve perdas, tivemos redução de mercado e queda na atividade industrial. Mas, em comparação a países de economia de tamanho similar, passamos pelo vendaval e nosso guarda-chuva não se quebrou. É o que dá confiança para que possíveis novas crises não afetem o crescimento do País, que é constante e festejado pelo resto do mundo.